Devemos ponderar que a melhor fase da vida não existe por diversos fatores, mas principalmente pelo fator subjetivo, isto é: não se mensura felicidade; também não existe uma verdade absoluta que fuja da relatividade humana e que seja imutável.
Mas por favor, caros leitores e leitoras, sejamos crianças e brinquemos um pouco de falar qual é a melhor fase da vida de forma inocente. Eu começo: a melhor fase da vida é após a juventude impetuosa que costuma ir embora após os 30 anos, senão no final do segundo decênio. É nesta faixa transicional em que a maioria das pessoas na sociedade ocidental capitalista percebem que para a felicidade é necessário: maturidade (alcançada por sofrimentos e erros) e simplicidade (que diminui o excesso de estímulos e aproveita a vida de forma serena). Essa fórmula ocorre quando a impetuosidade jovem entende que não pode abraçar o mundo e nem fazer tudo ao mesmo tempo, pois assim nunca fará nada.
Se não se pode servir a dois senhores por agradar a um e desagradar o outro, ou ainda a ambos; o que dirá servir a todas as expectativas do sistema? É necessário renunciar algumas posições para colocar outras em prioridade. É vital brincar uma brincadeira por vez, degustando as delícias que a vida coloca em nossa mesa. Um menu à la carte, ao invés de festival ou rodízio, começa a aparecer mais vezes nas mesas daqueles que passaram da comilança furiosa da juventude do espírito adolescente para a ruminação dos mais maduros.
É importante passar pelos festivais e desbravar o mundo; pois isso trará à alma jovem em transição a maturidade para ser seletiva em sua fase mais madura e serena. Não existe serenidade sem o processo de desfiguração que a vida corrida e ansiosa causa no indivíduo. Não é possível desfrutar da paz sem antes ser espancado pelos golpes de angústia que a vida desfere àquele que janta seu banquete amargo de consequências de processos corrosivos de anos de juventude, obcecado pelo prazer sem limites e sem ponderação.
Aos que se fazem como exceção da regra... chamo-lhes de forma veemente de mentirosos ou pobres coitados que perderam o parâmetro para entender o que é a vida serena, porque não passaram pelo contraste da agitação. A vida é esse contraste em que uma coisa só é uma coisa, porque a outra coisa é outra coisa! Ou seja: pelas diferenças que se definem e se ressaltam no campo simbólico e no processo de conhecimento contrastante do qual a vida é feita.
-Gabriel Meiller