Aprender a pensar é essencial; aprender a desaprender para aprender coisas novas... é imprescindível. Em reconstrução permanente!
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020
A morte do mito
A verdade está chegando, com trotes largos do cavalo da morte, irredutível e absoluto. O messias cai em desespero e sua cabeça é cortada pelo cavaleiro da morte. O mito foi vencido e o arquétipo da destruição do mito da cruz e da ressurreição, Baphomet, é erguido com gritos e urras. Os gritos são as evidências esmagadoras das ciências investigativas que dissecam os mitos, suas fontes canônicas e os seus equívocos. Baphomet, o batismo de sabedoria, é a investigação e o império da razão que se levanta contra a vida na mentira por parte dos fiéis cegos, presos em dogmas. O messias estava certo quando disse que a verdade nos libertaria; a ironia surgiu aí. A verdade é que o messias foi um profeta apocalipsista jogado em uma vala qualquer e seu corpo decomposto. A Bíblia é o grande livro de ficção, misturada com meias verdades e numerosos enfeites da tradição oral. Onde está o portador da revelação e o iluminado agora? Na era das luzes e da razão, os mitos se calam e se prostram diante da luz de Baphomet. Seja sua luz tão constante como a impermanência é, neste mundo de ilusões e devaneios.
#Prosador
quarta-feira, 22 de janeiro de 2020
A mania de viver no futuro (da nossa imaginação)
Dizem que a esperança não concretizada adoece o coração; digamos não somente a esperança, mas as expectativas em si. Imagine, por um breve estante, que um menino é ensinado desde pequeno que pode voar. Mesmo que ele não seja um pássaro, pode desenvolver poderes paranormais e voar sem a ajuda de nenhum equipamento ou avião. E imagine que esse garotinho acreditou de todo o coração nisso... que a vida é outra quando podemos sentir a sensação de tirar os pés do chão, sentir a brisa e vermos as pessoas e as paisagens do alto. Um dia o garoto decide voar... ele sobe em uma árvore e pula batendo os braços e antes que pudesse pensar que algo estava errado, cai no chão. A dor de sua queda é menor perto da frustração por ter acreditado por tantos anos que poderia voar e apostado sua vida nessa esperança. Semelhante a esse garoto ludibriado por seus pais ou quem o criou... somos nós. Mas existe uma diferença: nós, além da sociedade, nos auto-enganamos. Aceitamos padrões de felicidade e objetivos de vida que são tão irreais quanto o ideal de voar. O grande erro cometido pela nossa mente (que mente muito) é acreditar que a felicidade está associada em alguma conquista posterior, no futuro. Mas não se costumamos associar a felicidade ao momento presente, aos processos, mas sempre aos finais. Essa visão aristotélica, chamada Teleologia, em que os meios acontecem e servem a uma causa de um sentido maior ao final, está impregnada no imaginário coletivo inconsciente de muitos e nos faz sofrer. Porque achamos que nossas vidas só possuem um sentido se alcançarmos determinado status social, pessoa, padrão monetário, etc. Logo... o presente sempre é repleto de insatisfação, desvalorização e apagado por idealizações do que queremos no futuro. A mente, aquela que mente, é prisioneira do futuro e vive para satisfazê-lo. O futuro: tempo verbal inexistente e incerto, vigora somente na nossa imaginação. E quando ele ocorre, na maioria das vezes, ocorre de forma diferente do que imaginávamos. E então sofremos por antecipação e perdemos a qualidade do presente e nos frustramos quando o futuro se
mostra diferente das nossas idealizações.
sexta-feira, 17 de janeiro de 2020
A dor de Dukkha
-"Doutor, mal está minh' alma, dores surgem em minha mente. Ferida de quedas, mergulhos profundos; de fronte eu me atirei no ribeiro de pessoas rasas."
-"Tiveste traumatismo craniano, suponho eu. Seja paciente, caro paciente. A dor da desilusão fabrica pessoas realistas."
-"O que queres dizer com isto, doutor?"
-"Ora, jovem rapazote: a mente às vezes mente; as percepções da mente são mentiras seduzentes. A euforia de um relacionamento recente transforma-se em angústia de avassaladora frustração."
-"Eis aí meu diagnóstico?"
-"De forma breve, sim; 'Dukkha' é tua chaga".
-"O que é 'Dukkha', caro doutor? Que termo deveras estranho! "
- "Dukkha, meu jovem, é doença que afeta as mentes dos seres que buscam o mito da felicidade; Dukkha é a bola de neve de tuas emoções desenfreadas que esperam o mar de rosas e se transformam em profunda tristeza."
-"Arre... deveras grave o quadro clínico?"
-"Certamente: teu amor cego, jovem rapaz, transmigrou para ódio. Emoções estas que são dois lados de um mesmo cruzado: ao morreres de amor, odiastes: cultivastes terríveis frustrações. A cegueira de tuas emoções criaram um mundo que em instantes... quebrou pela torrente da realidade. Ela reverberou em teus tetos de vidro e aferiu a ti a tamanha desilusão! Saíste de tuas fantasias por pontapés bruscos de realidade. Esta é a doença de 'Dukkha': a frustração de buscares a felicidade de forma demasiada e deixares a euforia tornar frustração."
-"Ah, terrível de certo! Mas o que faço eu agora, doutor? Que pílula tomar pra anestesiar-me da imensa dor cortante?
-"Meu filho... vá para casa viver. A ilusão passa aos poucos, mas resolve-se com o reconhecimento de que: quanto menor é o apego da mente no mito da felicidade plena, melhor é tua estabilidade emocional. Ignore os gritos de Aristóteles sobre a teleologia; querer dar sentido à vida é o néctar envenenado dos humanos. Trilhar, porém, o caminho do meio, da serenidade, e da realidade sem o castelo de ilusões, é o remédio que ameniza o sofrimento dos tolos Homo Sapiens."
#Prosador
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