quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

A mania de viver no futuro (da nossa imaginação)

 
   Dizem que a esperança não concretizada adoece o coração; digamos não somente a esperança, mas as expectativas em si. Imagine, por um breve estante, que um menino é ensinado desde pequeno que pode voar. Mesmo que ele não seja um pássaro, pode desenvolver poderes paranormais e voar sem a ajuda de nenhum equipamento ou avião. E imagine que esse garotinho acreditou de todo o coração nisso... que a vida é outra quando podemos sentir a sensação de tirar os pés do chão, sentir a brisa e vermos as pessoas e as paisagens do alto. Um dia o garoto decide voar... ele sobe em uma árvore e pula batendo os braços e antes que pudesse pensar que algo estava errado, cai no chão. A dor de sua queda é menor perto da frustração por ter acreditado por tantos anos que poderia voar e apostado sua vida nessa esperança. Semelhante a esse garoto ludibriado por seus pais ou quem o criou... somos nós. Mas existe uma diferença: nós, além da sociedade, nos auto-enganamos. Aceitamos padrões de felicidade e objetivos de vida que são tão irreais quanto o ideal de voar. O grande erro cometido pela nossa mente (que mente muito) é acreditar que a felicidade está associada em alguma conquista posterior, no futuro. Mas não se costumamos associar a felicidade ao momento presente, aos processos, mas sempre aos finais. Essa visão aristotélica, chamada Teleologia, em que os meios acontecem e servem a uma causa de um sentido maior ao final, está impregnada no imaginário coletivo inconsciente de muitos e nos faz sofrer. Porque achamos que nossas vidas só possuem um sentido se alcançarmos determinado status social, pessoa, padrão monetário, etc. Logo... o presente sempre é repleto de insatisfação, desvalorização e apagado por idealizações do que queremos no futuro. A mente, aquela que mente, é prisioneira do futuro e vive para satisfazê-lo. O futuro: tempo verbal inexistente e incerto, vigora somente na nossa imaginação. E quando ele ocorre, na maioria das vezes, ocorre de forma diferente do que imaginávamos. E então sofremos por antecipação e perdemos a qualidade do presente e nos frustramos quando o futuro se
mostra diferente das nossas idealizações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário