sábado, 22 de julho de 2023

A desconversão e a graça em "cair da graça"



O que dizer sobre os apóstatas do cristianismo? São aqueles que foram salvos da boca do leão, encarnadores da expressão: o que não me mata, me deixa mais forte. Nietzsche reconheceu o lugar de fala de um crítico do cristianismo ao dizer que:  "É necessário ter visto essa funesta fatalidade de perto, melhor ainda, é preciso tê-la EXPERIMENTADO EM SI, é preciso ter praticamente sucumbido a ela para compreender que isso não é qualquer brincadeira. "


O que não é qualquer brincadeira? A alienação de quem aprende a valorizar mais o reino do nada do que sua própria vida. A coibir seus instintos mais primitivos de forma inútil. De quem vive pelo não pecar, pela santidade e se priva do que gostaria de ter feito mas não fez por "temor ao Senhor!". Senhores, quem não fica irritado ao descobrir que foi vã sua clausura santa? Que "deixar de dar aquela bimbada antes do casamento" e ter faltado em festas e orgias foi um atraso? Que deixar de rasgar o verbo e expressar sentimentos lascivos foi uma burrice que o pastor/padre te aconselhou a fazer? Ou que o "5 contra 1" foi doentiamente desencorajado e taxado de imoralidade, sendo que na verdade é recompensador? 


Isto é o chamado "carregar em si as marcas de Cristo" segundo os santos. Experimentar isso em si é requisito para que digamos como Nietzsche: "Contra esse instinto de teólogo é que eu movo a guerra." Se os cristãos que estão lendo isso e não enxergam sentido é porque não carregaram direito as marcas de Cristo. Não entenderam o cerne do Evangelho, apenas enfatizaram a parte da graça ou então não o levaram a sério.  Ou então interpretaram a Bíblia sem o desserviço da doutrina fundamentalista e estes se salvaram em partes, mas ainda crêem na centralidade do mito de que Jesus foi o deus encarnado que morreu para salvá-los de seus pecados. 


Mas então... ocorreu comigo o que Paulo, em Gálatas, disse dos mestres judeus que seguiam a lei: caíram da graça! 


Me regozijarei nisso, pois o autor de Hebreus confirma minha deserção permanente do cristianismo ao dizer: 


"Ora para aqueles que uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito Santo, experimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir, e caíram, é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento; pois para si mesmos estão crucificando de novo o Filho de Deus, sujeitando-o à desonra pública." 


Oh, sensato! "Crucifique-o!", grito eu! Este autor acertou em cheio na impossibilidade de que quem caiu da graça possa voltar àquilo em que estava assentado. Isto porque fomos vacinados contra a desonra à vida, contra a castração da alma e dos sentidos. Já o cristão é um sofredor porque odeia a vida em amor do nada que ele acredita que um dia chegará. Ex-cristãos são aqueles que "caíram da graça" e se tornaram livres da manipulação e do instinto do teólogo. O presente, então, passa a ser valorizado e a carne vivificada! A vingança é utilizada quando necessário, a ira e a calúnia como pagamento na mesma moeda caso assim se queira. O vinho é o culto a Dionísio e a embriaguez um motivo de alegria. O sexo não é restrito e a única preciosidade é o momento presente! O conhecimento é valorizado e o espírito crítico a espada afiada e o capacete da salvação contra a lavagem cerebral do teólogo. 


Sendo assim, não esmurro meu corpo, nem faço dele meu escravo, para que depois de ter escapado do conto do vigário eu também venha a salvar outros da mesma destruição da carne e dos sentidos. Afinal, fomos chamados para a liberdade, então usemos  essa liberdade para dar vazão às vontades da carne; por isto: libertem uns aos outros e assim invertam a cruz de Cristo! 




Sem mais... pois mesmo sendo apóstata, carrego em mim as marcas de Cristo e de seu sistema traiçoeiro. 


-Gabriel Meiller, o ex-cristão.

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