sexta-feira, 25 de abril de 2025

Sobre a vida como um jogo de xadrez



Tenho refletido sobre a metáfora da vida como um jogo de xadrez, isto é, sobre a importância de pensar antes de fazer uma jogada. Há muitas escolhas e consequências na vida e por isso a agilidade não deve ser confundida com impulsividade. No jogo de xadrez existem armadilhas em que uma peça é oferecida como uma emboscada para que após um ataque mal pensado, o oponente chegue ao xeque, ou ao ponto de pegar uma peça preciosa do jogador impulsivo, como a rainha, por exemplo. 


Na vida o princípio é o mesmo. Se formos muito reativos, podemos cair em emboscadas; a resposta apressada leva a confrontos desnecessários. É importante calcular as jogadas (reações contra outras pessoas) e refletir se temos poder ou culhão para enfrentar quem nos incomoda sem sermos devastados por um contra-ataque sinistro. Tenho aprendido a ler o tabuleiro ao meu redor e a antecipar mentalmente as jogadas para que eu saiba qual será a melhor jogada a ser feita. O confronto direto quase nunca é do meu feitio; ele traz muito mais prejuízos do que vitórias. Ao contrário, ao invés de "atacar" alguém (metaforicamente), eu prefiro deixar o adversário jogar e tomar a atitude, com ar inquisitivo que me é característico, como se perguntasse: você veio com qual intenção? 


Meu ar fechado e passivo geralmente é minha forma de precaução. Se o adversário propõe um apaziguamento, aceito de bom grado e sem retrucar. Se ele me sugestiona a fazer algo que me custará menos esforço do que um confronto direto ou conflito, também faço o que foi proposto por ele e deixo-o "sair por cima".  Fazer inimigos é um custo indesejável e desnecessário e odiar uma pessoa traz o dobro de trabalho e consome muito energia, além de contaminar o meu julgamento da realidade. Eu prefiro a indiferença e a distância que esfria os envolvimentos e as animosidades, principalmente em terrenos que são cruciais para mim, como a área profissional. 


A distância equilibrada, isto é, o ar de impessoalidade com pitadas de boa vontade aparente e solicitude para um auxílio nas demandas profissionais de quem precisar de mim é o feijão com arroz do xadrez da vida. Ser um bom profissional sem a necessidade de se expor demais é sempre uma medida mais segura, com exceção de algumas áreas que exigem um carisma muito personalista, como a área de vendas e de mídias sociais. Obviamente, em outros ambientes essa metáfora pode ser atenuada e as afetividades (negativas e positivas) podem ser menos reprimidas e mais transparentes. Entretanto, a vida continuará sendo um enorme xadrez, mesmo que o adversário mude e a cena passe a focar em um jogo de "nós contra nós mesmos", o que no fundo sempre se mostrará um fato irrefutável. Antes de um outro adversário, nós somos o nosso primeiro adversário.  É por esse motivo que a contemplação e o ócio, que é o propiciador dela, é tão fundamental para a vida! Para jogarmos contra nós é necessário que pausemos os jogos paralelos com os demais e nos voltemos a nós mesmos pela reflexão. 


Obviamente, existem diversos estilos de jogo de xadrez: os mais agressivos e exploradores, bem como os mais defensivos e conservadores que atuam no contra-ataque. Cada um com seus pontos fortes e fracos. Os estilos podem mudar de acordo com a fase do jogador e as demandas dele. Mas o que nunca pode ser perdido de vista são as consequências da inconsequência de jogadas impensadas que são fruto da falta de reflexão e de um excesso de distração causada pelo entretenimento procrastinador. 


-Gabriel Meiller

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