sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Vivendo Apesar do Absurdo


           
   Quando o ser humano caminha com os pés no macabro chão da existência, sem calçados e óculos escuros para camuflar o sol abrasador da realidade humana, este homem se depara com o Absurdo!

  Peregrinar sem rumo definido debaixo do cinzento sol infernoso da existência, nos dias de verão, demanda energias e exige constantes esforços de constatar o Absurdo. Pessoas morrem, filhos são abortados antes de abrirem os olhos dentro do útero de suas mães; assaltos acontecem; guerras banham o mundo de sangue; todos são esquecidos depois de algum dia; a vida se acaba, quer repentina ou gradualmente; conhecer a verdade nua e crua e não poder fazer nada para mudá-la... enlouquece os mais esperançosos. 

 Por isso poucos são os que vão até o fim para se deixarem serem penetrados pela absurdidade da contradição de existirem neste mundo. Ah... já dizia um vulto em um livro histórico polêmico, quer para o bem e para o mal: "Eu, o mestre, fui rei de Israel em Jerusalém. Dediquei-me a investigar e a usar a sabedoria para explorar tudo que é feito debaixo do céu. Que fardo pesado Deus pôs sobre os homens!"
  
 Fardo pesado (uma proposital redundância, assim como descer para baixo) é o que define bem o que passa o ser humano. Boquiaberto ao contemplar a carrasca existência, absorto no inexplicável, no impronunciável... ele só sente! O Real toma conta do verme que vive debaixo do céu; ele não tem condições de reunir forças para expressar o que sente no campo simbólico das palavras, e possui dificuldades de montar um quadro no seu imaginário humano (mente); Lacan que o diga, pois terminologizou estes conceitos e os definiu. Quanto mais se aceita e explora a existência, mais falta de sentido se tem em viver.
" 'Que grande inutilidade!', diz o mestre.      Que grande inutilidade! Nada faz sentido'". Por isso somos, nossa geração pós revolução industrial, pós revolução científica, e vivente da globalização e de informações disponíveis numa enorme rede epistêmica chamada Google; somos a geração que mais contempla o absurdo de forma teórica e mais uma que contempla de forma prática.
  
  Acumulamos os absurdos passados através da bagagem existencial que todos os ancestrais sapiens e homos nos transmitiram (seja pelo inconsciente coletivo ou pelas heranças culturais, etc) e por isso explodimos nossos neurônios com uma pistola, pulamos de prédios e cortamos nossos pulsos de forma frenética.

 A realidade vociferou alto em nossa cara e nos tratou com escárnio. A depressão nos consumiu e o tédio existencial corroborou, juntamente com a falta de sentido, que nos sussurra todos os dias sobre como a Realidade é. Desejo a pacificação pela ignorância aos que querem pisar neste solo da existência e não estarrecerem-se abismados com o cenário que o sapiens encarou desde o seu jardim de infância.
Desejo que a maioria não entenda o que escrevi; benditos são estes! Santa ignorância! Ah... ela me rejeitou, e virei o verme consciente que sou do meu estado; um sopro, apenas, e sou levado no cósmico estalar de dedos.
#Prosador

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