Todos nós alguma vez já passamos pela semelhante sensação de enjôo. A receita para esse tipo de sensação é o excesso; e mais ainda: a conquista. O homem enquanto desejador, constituído por uma explosão de sentidos e desejos contraditórios, é um ser aspirante por natureza. A aspiração e a não realização do desejo é o combustível existencial para que este primata guloso se mova na existência.
A inquietação e euforia humana é uma consequência do desejo utópico, platônico e não realizado. Falando de forma biológico-evolutiva, as estruturas cerebrais e orgânicas de um homo sapiens funcionam a base de estímulos e liberações de hormônios do prazer, como a dopamina e a ocitocina, por exemplo.
O sexo, a apetitosa comida, a realização de um desejo... são sinalizados e recompensados pelo cérebro após a posse, isto é, a satisfação das carências existenciais. Recompensar o sexo através de hormônios do prazer é um sinal de que nosso organismo está preocupado em reproduzir e manter a espécie viva.
A recompensa de comer uma refeição, através das endorfinas liberadas, são uma sinalização do organismo de que ele precisa se alimentar para sobreviver fisicamente e não morrer de inanição.
O batimento cardíaco acelerado é um reforço orgânico e cerebral que se manifesta mediante o medo, ou seja, um mecanismo de defesa que visa preservar a espécie humana.
Porém, quando conseguimos o que almejávamos, o que tínhamos curiosidade em conhecer, em ter, em experimentar... esses hormônios de gratificação diminuem. Os hormônios que antes o cérebro produzia por causa de tamanha euforia devido à inalcançabilidade do desejo, agora diminuíram e o ser desejoso vivenciou sensações mais normais, ou quem sabe até tediosas pela baixa de hormônios do prazer. A novidade se foi... desceu ladeira a baixo e caiu na rua do conformismo.
Por que? Por que? Muxoxa tristemente o coração humano! Por quê o que tanto brilhava não brilha mais e produz tamanha luz moribunda? As ruas de cristal e o caminho de diamantes se tornaram lama e esterco. Um caminho de palha na roça, marcado pela monotonia de pálpebras cansadas dos forasteiros perdidos, se faz a única opção aos seres viventes exauridos da vida.
Estapafúrdia! Estapafúrdia! Aglomerados de lembranças e momentos que logo se findam é a vida. Um rápido e imperceptível flash na escuridão que logo se dissipa sem nunca ter sido antes notado e que refletiu com tamanha moribundidade estapafúrdia.
O mundo dos prazeres não tem sentido; o mundo como vontade e representação é um surto coletivo dos homo sapiens. Brada a angústia de dentro de um peito entre 6 bilhões de peitos... MUNDO, MUNDO, VASTO MUNDO. O que é tudo isso? Pessoas que nascem, passam a vida se empenhando em desejar e suprir os desejos... para depois acabarem decompostas no túmulo?
"Não!' Acrescentou a angústia coletiva do homo sapiens, incapaz de ouvir o grito do silêncio. E então surgiu a alma! Surgiram os contos amenizantes que buscaram controlar o homem de seu surto. As religiões são os famosos "era uma vez". Mentiras reconfortantes! Antes mentiras reconfortantes e indivíduos menos surtados, do que verdades enlouquecedoras. Do que o caminho da roça de pálpebras cansadas e sem ruas de cristal.
A verdade? Às favas. Todas elas nunca me deram nada senão mais dúvidas, pálpebras cansadas e caminhos de roça repletos de esterco e palha podre. A verdade de nada serve para quem é um flash imperceptível na escuridão do abismo. Moralismo ateu? Que vá para a casa do caralho! O ser humano é livre para se iludir, ou se deprimir!
-Gabriel Meiller
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