Eu não sei se todos sabem que não sabem de tanto quanto acham que sabem. Quem coloca a mão no fogo e dá a sua vida por uma certeza? Esse alguém disposto a tal sandice é corajoso em sua loucura. Não me levem a mal aqueles mais convictos, mas cada vez mais que eu reflito sobre a realidade, mais acho-a complexa e obscura. Pensem bem: uma pedra é uma pedra e esses fatos mais concretos a grande maioria não tem nenhuma dúvida sobre tal objetividade.
Mas e quando a realidade vai além de fatos objetivos? Quando se trata de interpretação de conjuntos de fatos ou fenômenos impossíveis de uma concordância objetiva? O que há depois da morte, o que é o universo e se existem outras dimensões além desta, se Capitu traiu ou não Bentinho ou o que é a matéria escura, bem como o que podemos fazer para unificar as teorias da mecânica quântica com a relatividade geral... todas essas e as demais questões carregam em nós um sentimento de impotência que talvez nos conduza à
humildade.
Certo homem, uma vez, saiu colando cartazes em um poste numa metrópole conhecida. Qualquer transeunte que se aproximasse seriamente para ler o anúncio, saia dando gargalhadas. Descobriu-se que no cartaz constava o seguinte:
"Procura-se juiz capacitado a julgar com precisão e objetividade um assunto que aflige minha filha: a existência ou não de Deus e o intuito da vida... ofereço recompensa generosa."
Tal tolice e ingenuidade acontece conosco quando agimos movidos por convicções de que sabemos o que é a realidade. A suspeita, no entanto, é como um pêndulo que muda constantemente de direção de forma ritmada. Comecei a pensar hoje: e se, apesar da nossa lógica histórica, crítica e científica coexistir um mundo além da matéria que as religiões interpretaram de forma arcaica e errônea? Então o que fazemos gira em torno de combater a desinterpretação dessa suposta outra dimensão, achando nós que ela é em realidade aquilo que os antigos se enganaram com ideias toscas sobre julgamento final, vida após a morte e deuses.
Então eu devaneei: e se existir uma vida ou continuação além desta, como muitos afirmam? Eu iria querer seguir essas diretrizes metafísicas ou escolheria viver segundo esse mundo e somente ele, ignorando as "leis espirituais"?
Existe um denominador comum sobre essa suposta realidade espiritual entre as religiões ou algum consenso sobre um pós-vida? Se nem as questões terrenas possuem um acordo epistemológico, imagina essas supostas questões metafísicas. Afinal, ou são conceitos muito distantes e elevados para serem compreendidos ou são invenções da mente humana. Ou projeções astrais existem, bem como memórias de vidas passadas... ou são mentiras inconscientes e surtos daqueles que afirmam terem tido elas.
No final das contas eu cheguei à conclusão: toda religião prega sobre fazer o bem (que pode ter parâmetros mínimos e universais em muitos casos). Se eu fizer o bem, não procurar prejudicar os outros... isso será semelhante a tratar bem um traficante ou um policial disfarçado. Mesmo que ele tenha poder e força para me assassinar ou me dar uma lição pavorosa... se eu tratá-lo bem sem nem sequer conhecê-lo, irei "ser salvo" sem saber de fato quem ele é, afinal, no dia a dia nunca sabemos com quem estamos lidando.
Nessa suposta questão metafísica... eu penso que seria o mesmo princípio, independente do que de fato houver: se não houver nada após a morte, usei a única vida para favorecer os seres que comigo conviveram; se houver outro plano, serei "julgado" pelas leis desse plano segundo minha conduta.
Mas o que de fato penso? Não sei... eu oscilo como um pêndulo e há dias em que me aproximo mais de um ateísmo e há dias em que eu duvido de que não haja nada além dessa dimensão ou do corpo biológico acompanhado de uma mente como extensão dele. Que importa, afinal? Nada... que importa é viver e me divertir com a impossibilidade de cravar o martelo sobre assuntos inverificáveis.
-Gabriel Meiller
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