Uma dose de álcool e então o inconsciente aflora; duas doses de álcool então a libido aflora... três doses de álcool então bate a crise existencial. Somos o que somos porque queremos? Ou somos o que somos porque o destino nos fez assim? O álcool, bem como toda droga alteradora de consciência nos permite conhecer outras facetas de nós mesmos: nossa animalidade, nossas paixões, ódios, rancores... e por aí vamos navegando dentro de nós. E aí nos pegamos analisando nossas versões passadas e toda nossa covardia; nos aborrecemos com nossas limitações e lamentamos nossos erros. Um espírito do progresso nos assola quando desejamos voltar atrás e apagar nossos erros. O grande motivo de nossa inquietude é a grama mais verde, ou seja, o fato de nos entristecermos com a comparação injusta com outros contextos e com o delírio de que poderíamos estar em um lugar melhor, com pessoas melhores, com contas bancárias maiores. Somos seres da falta, desejantes do que sempre nos falta, como diria Lacan. O hiato, a coluna, o vazio... tudo isso é desejado justamente porque não o temos. Somos seres da incompletude, ou seja, o que nos intriga é o que sempre está faltando. A gratidão, o contentamento, o real... odiamos essa monotonia do que temos. Queremos o que foge do nosso alcance, clamamos pelo sofrimento da grama mais verde. Desta forma, de utopia em utopia, perseguindo o inalcançável... vamos deixando a vida passar, rezando para ela correr... matando o que nos mata: o tédio e a falta de dopaminas. O que pode nos entreter senão a tristeza, a angústia que faz o tempo voar, nos absorvendo no tempo? É por isso que o sofrimento nos seduz e que a euforia é nosso deus. A drogadição, o desejo desenfreado, os pulsos riscados e toda sorte de gritos existenciais que nos fazem fugir da rotina... amamos uma distração, uma alienação da vida como ela é.
-Gabriel Meiller
Nenhum comentário:
Postar um comentário