Sim, às vezes eu sou escroto e pau no cu mesmo! Exatamente: às vezes eu invejo os outros pelos seus pontos fortes e privilegiados. Sim, eu também já trai alguém e fui machista, homofóbico, racista e insensível! No final das contas somos todos impoliticamente incorretos e escrotos e está tudo bem, sim!
A culpa cristã somada à militância política de esquerda (ou direita)fez do nosso moralismo uma caverna que nos distancia do mundo em uma grande hipocrisia!
Condenamos a nós mesmos e ao outro de forma voraz. Até que ponto isso faz bem? Até que ponto a culpa cultural cristã e seu controle rígido é algo bom? Ser gentil consigo mesmo não significa ser um fascista ou sociopata despreocupado com o mundo, mas é o começo do amor próprio. O amor próprio deve ser por inteiro, sem condicionantes e livre da busca incessante para nos tornarmos um cristal lapidado! Aceitarmos a nós mesmos com nossas falhas é o princípio de uma vida menos doentia e menos corroída pela culpa e pela cobrança excessiva.
Vejam bem, meus caros, o mundo é assolado por uma epidemia grave: a epidemia do autoaperfeiçoamento sem limites, isto é, a síndrome do cristal lapidado!
E sim... eu continuarei sendo pau no cu, egoísta, invejoso e mais outros adjetivos negativos, bem como os positivos. E continuarei me aceitando e convivendo com meu lado negro. E, sim: irei usar a expressão "negro" independente dos protestos da galera do letramento racial, eles que lutem! Já dizia o poeta: "Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui." E sabem o que eu descobri? Que eu sou exagerado e dramático por natureza, essa é a minha personalidade na qual muitos reconhecem e que tem características que resvalam no "lado negro" e "lado luminoso". Sem o meu drama, a minha vida seria uma exclusão, uma cisão e eliminação da minha forma de me expressar !
Não é possível amputar de nós o nosso lado negro sem também eliminar o lado solar, nobre e alegre! Até quando iremos amputar nossa personalidade e esconder nossos defeitos por causa do julgamento alheio? Se pudermos mudar, que mudemos; mas se não pudermos... que possamos ter a nossa própria compreensão incondicional em primeiro lugar e depois a compreensão alheia que sempre será condicional!
-Gabriel Meiller