" É... como o mundo é complicado e complexo. Cacete, hein... pior que se fosse só o mundo que fosse assim, menos difícil seria. Mas ainda tem outros mundos no próprio mundo... aff! Os mundos interiores de cada um, de cada mente que mente a si mesma.
Tanta religião, tantas guerras, pobreza e miséria; tantos executivos pobres... pobres de alma e ricos em matéria; adornados pela religião do amor ao próximo, mas vazios do amor e do próximo.
Se bem que.... o que seria o amor e quem seria meu próximo? Devo aceitar o conceito de amor cristão e o conceito de próximo também deveras cristão? Hum... sei lá! Depende... de cada contexto, acho eu.
Mas essas pessoas que só pensam em si... elas devem ser muito sem Deus no cora... pera! Deus no coração? Mas deus não existe! É uma invenção da mente humana pela necessidade de proteção, afeto, conforto, estabilidade... é a projeção paterna na metafísica. Acho que deve ser isso mesmo. Afinal, Freud disse isso, não é mesmo?
É... é isso mesmo! Ou não? Não! Peraí! De que deus Freud falava? Todos? Do judaico cristão? Acho que dá na mesma, afinal, todo ateu coloca tudo no mesmo saco. Mas peraí... o que é deus? É força criadora, além do plano físico e originador desse plano físico? É algo, alguém, ou nenhuma dessas duas categorias?
Puts... assunto confuso pra burro... pra burro não é, né? Afinal, ninguém que fosse burro ou desinteressado pensaria consigo mesmo dessa forma. Mas o que não entendo é sobre o que é ser ateu; alguém que não acredita em nenhum dos deuses e no Deus cristão, ou alguém que também não acredita em nada além do material? É possível ser ateu de uma Força criadora? Uma Força criadora diferente das divindades antropomorfizadas e que atribuíram nas divindades as emoções e sentimentos deveras humanos? Ira, julgamento, amor, bondade, condenação, destino... etc?
Agora fica mais difícil rotular e diferenciar um ateu... ou melhor: ateus de ateus! Afinal, qual a garantia que temos de que realmente o senhor Freud acertou na loteria cósmica? Se acertou, acertou no deus cristão antropomorfizado, corrompido pela cultura cristã eurocêntrica e judaico primitiva. Pois é possível condenar o conceito humano da Força criadora e não a Força criadora inumana e amoral? Talvez...
Eita... isso é uma forma teísta sofisticada de se pensar? Não... mas não sou teísta. Nem sei se cabe no teísmo essa Força criadora; se caber, também não sei se acredito nisso. Quais as evidências de algo metafísico... ou não evidências? Difícil! Talvez eu seja louco por pensar assim, tenha ultrapassado os limites da sanidade.
Mas... quem disse isso? Ah, acho que o meu pai evangélico; ou aquele ateu que disse que estou andando à deriva, sem um rumo. Ué... mas... mas... peraí! Por que pensar dessa forma é andar à deriva? Quem estipulou que devo seguir um lado? O que é lado? O que estou seguindo não é considerado um lado? Por quem? Pois pra mim é um lado, sim! Ah... talvez seja aquela coisa lá, né? A tal da normatividade. Esses que me disseram que devo seguir um lado estão seguindo a tal da normatividade. Deve ser isso... coitados!
Acho que eles devem pensar que sou indeciso com essa tal coisa de visão de mundo. Mas eu, sendo agnóstico, sou isso mesmo? Ou eles é que querem que eu adote um 'lado'? Pois eles devem pensar que se eu não adotei um desses lados, talvez eles possam estar equivocados nas visões deles... e reconstruir a definição e as certezas deles que seriam destruídas... seria horrível para eles. Coitados! Tudo bem, melhor deixar isso para lá, não vão me entender. Aliás, essa coisa toda de discriminar os supostos 'isentões' não é nada novo.
Na questão sexual os mestres da normatividade questionam e discriminam os bissexuais. Pensam: 'Eles são indecisos, com essa história de amarem homem e mulher ao mesmo tempo. Eles precisam escolher um lado, ou um, ou outra!' E acham que é irreconciliável essa condição humana; afinal, será mesmo? Mas muitos desses não professam em seus livros que 'tudo é possível ao que crê'? Ora, bolas! Estão querendo ser os mestres da normatividade mesmo! Que coisa chata a arrogância humana! Presente em todos, até em mim. É o que dizem os mestres da normatividade, pelo menos. Mas sei que em mim também há a arrogância; afinal eu sou humano, demasiado humano.
E o que dizer dos mestres da normatividade que repudiam o ato de querer as duas coisas além da sexualidade? Misturar o salgado e o doce; mergulhar o pão francês no café com leite? Irão dizer, esses mestres da normatividade, que isso é coisa de louco. Que é resultado de uma alma que quer tudo e não quer nada! Arre... não me deixam em paz nem em meus gostos alimentares!
E gostos políticos então? Os da direita me condenam, e os da esquerda também. Não posso eu ser um social democrata? Não posso discordar da cartilha de São Marx e das doutrinações de Adam Smith? Posso... e devo! Afinal... tenho cérebro, tenho personalidade.
Mas e o que dizer das teleologias? O teísta pensa que o mundo foi feito por Deus ou Deuses para um propósito. Há no final da insignificante vida humana um destino? Céu e inferno? A reencarnação? O renascimento? O fim de tudo e da matéria? Afinal, outra visão teleológica quase inexplorada, é a tal da visão ateia.
Ah... esses ateus! Afirmam dogmaticamente o seguinte: deus, e não só ele, mas toda a metafísica, é uma criação da mente humana pois a realidade é fria, difícil de se tragar; a vida é o que é, e temos que aceitá-la sem mitos. Afinal são muletas humanas para suportar a realidade.
'É mesmo?' Penso em tom zombeteiro; e se não for isso? E se invertermos esse raciocínio? Se formos transvalorá-lo? A transvaloração dos valores ateus! O tiro que sai pela culatra!
E se existir a tal da metafísica? Se existir a Força criadora desantropomorfizada? Ou se existirem ao menos outras vidas? E os ateus, com receio de aceitar estas premissas por causa do que a religião fez com elas, negam elas. Pois a interpretação e aplicação humana do metafísico na antiguidade era pífia, ruim, agressiva, manipuladora e redutora. E os ateus podem estar questionando essa interpretação, achando serem elas a verdade, ou melhor, a mentira. E são! Mas são pela má interpretação humana da existente metafísica? Ou da inexistência dela mesma? Esse é o ponto... do qual eu não faço a mínima ideia!
Por que a realidade tem que ser fria ou alegre? Porque não as duas coisas? Por que o bom tem que ser mitificado? Ao menos nem uma vez iremos nos dar bem? Ao menos uma vez essa estranha história de que depois dessa vida as coisas vão melhorar não pode ser verdade? Talvez... quem sabe... sei lá! Talvez seja, talvez não seja.
Mas independente dessa discussão toda... não acho que ateu e teísta sejam inteligentes ou burros! Crença não define nada disso. Mas a aplicação dessas crenças! Eu acho... talvez! Pois existem ateus burros e cristãos burros! E ateus inteligentes e cristãos inteligentes! Mas e os agnósticos? 'Ah.. esses são mais sóbrios e inteligentes ainda!' Ops... essa foi minha arrogância falando. Devo me policiar! Na verdade inteligência e burrice vão além de rótulos de qualquer epistemologia e cosmovisão! Mas mais inteligente ainda é quem não rotula ninguém como inteligente ou burro por causa de sua visão de mundo... "
Assim fervilhou minha mente enquanto eu estava a caminho de algum compromisso.
-Gabriel Meiller
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