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quarta-feira, 29 de novembro de 2017
Afinal, palavrão é pecado?
Antes de começar a falar, quero deixar explícito que este tema não tem muita relevância perto da centralidade do Evangelho e de seguir Jesus. Não estou escrevendo para debater ou gerar discussões, mas reflexões. Então, independente da sua opinião, caro leitor, se concordar ou discordar... relaxa! Mas escreverei sobre este tema para os curiosos de plantão e interessados em detalhes para além do trivial. Bem... o que é palavrão? Sociológicamente, é considerado como o uso de palavras de conotação sexual, usadas para expressões de raiva, alegria, tristeza, alívio... bem como insultos. Usei o termo "sociológicamente" para trazer a minha definição mediante a observação empírica do cotidiano brasileiro. Outro detalhe é que há, no decorrer da história, uma mudança no senso comum entre palavras que não eram consideradas "palavrão" e que hoje são, e palavras que eram consideradas e hoje não são. Então se fosse pecado, ele seria imputado por Deus dependendo da época e região? Em lugares da África um simples "poxa" já pode "escandalizar". A Superinteressante possui um artigo sobre isto e que deixarei o link no fim deste texto. "Ta bom", diz você de forma impaciente e me pergunta: "Mas o que a Bíblia diz?". Então vamos lá: "Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem"
(Efésios 4:29- Nvi). O que seria "palavra torpe"? E qual a intenção e o contexto em que Paulo de Tarso escreveu esta carta? São perguntas fundamentais para entender um texto. No contexto de Efésios, no capítulo quarto, Paulo está dando instruções gerais acerca de como viver de maneira digna no Evangelho (4:1). A carta de Efésio foi uma carta de instruções gerais da fé, e que circulava, juntamente com outras, entre as igrejas da Ásia Menor (ver Colossenses 4:16). No contexto do capítulo 4, Paulo faz uma combinação entre atitudes que devem ser evitadas, substituindo-as pelas que devem ser praticadas (4:25 ao 28). E fala sobre a palavra: torpe (Sarprós, do grego) que possui a conotação de uma fruta estragada, ou seja, algo que não tem condições de uso. E em seguida instrui a falarem aquilo que traz edificação para os que ouvem. O grande problema é que dizer que palavrões como "porra, caralho, puta que pariu e cú" são pecado, está no anacronismo. Essas palavras não era ditas naquela época e Paulo não se referia a expressões referentes a órgãos sexuais e palavras pouco usuais ao moralismo cristão ocidental. Quando ele diz palavra, está se referindo à linguagem em si e não à palavras isoladas. Outro erro está em classificá-las como imorais, pois o pressuposto de que muitos partem vem de que o sexo ou a menção desses orgãos, ainda mais desta forma, são pecado de imoralidade. Isto ocorre porque o cristianismo sempre teve esta tendência de negativar o sexo e vê-lo com maus olhos. No ocidente, um cristão dizer que "caiu" já provoca nos outros o pressentimento de pecado sexual como adultério, prostituição e etc. Mas o "cair" pode ser em qualquer área, certo? Esta atitude da cristandade para com o sexo, ao decorrer dos séculos, mostra que o sexo sempre foi um alvo de sua repressão e fixação; por isso tentam evitá-lo e demonizá-lo, como consequência de mecanismos de defesa inconscientes.
A própria história do cristianismo mostra isto, como no livro "Eunucos pelo Reino de Deus". Mas simplificando: se eu falasse que fiz uma cirurgia no meu pênis, você acharia imoral a simples menção dele? A tendência seria não. Com a palavra "caralho" dá no mesmo, mas com outras letras. Porém, esta palavra não é lá muito elegante e socialmente aceita, né. Por isto muitos não falam, ou falam somente em conversas informais. Mas então "o que seria entorpecer a linguagem?", você deve estar perguntando. Eu digo: palavra torpe é usar a sua linguagem para "matar" alguém, seja xingando alguém com esses "palavrões", ou seja com insultos que não são "palavrões", mas que ferem do mesmo jeito ou até mais; também seria mentir para alguém, ou adular alguém com palavras bonitas sendo que você a prejudica fazendo ela acreditar que estes elogios são verdades, mas na verdade são ilusões. Ou então passar informações erradas e que atrapalham as pessoas, sendo esse conjunto de todas estas coisas, que acabei de citar, algo que não as edifiquem, ou seja: as destroem. Outra evidência de que palavra torpe não seria palavrão, é o fato de na Bíblia haver palavras que eram consideradas fortes e que os tradutores suavizaram e muito. Temos o original de Ezequiel 16 com palavras fortes de confronto, onde Deus menciona que as mulheres de Israel estavam interessadas no "caralho" dos egípcios. Este seria o termo mais adequado, segundo alguns intérpretes. Foram palavras duras que Deus usou para chocar e chamar a atenção do povo cauterizado de mente. Temos Jesus chamando os fariseus de "sepulcros caiados" e "serpentes e raça de víboras" (Mt 23:33) e que naquela sociedade era considerado um baita "palavrão". Mas eram palavras de repreensão e para delatar a hipocrisia de pessoas que eram raça de víboras, porque matavam pela boca (pelo ensino da lei, colocando fardos nos outros) e sepulcros caiados, porque eram vazios por dentro e adornados por fora.
Desta forma, a linguagem de Jesus era mais clara que a neve, jamais torpe ou coisa do tipo. Ele não os ofendeu, pois eram aquilo. Jesus estava os despertando da hipocrisia malévola deles e tentando salva-los do juízo de rejeitarem o Messias e o Reino, por causa de suas tradições. Resumindo: o palavrão pode ser pecado se for usado como palavra torpe, ou seja, para insultar, destruir, mentir e não edificar o próximo. A grande questão seria o que fazenos con este conhecimento. O fato de falar palavrão em si não ser errado, não significa que irei falar na frente de quem tem consciência diferente da minha e que não gostaria de ficar ouvindo isto a toda hora. Deve, portanto, haver um equilíbrio nesta questão. Não devo explorar meu próximo ou falar um palavrão somente para esfregar em sua cara que não é pecado. E nem ele me esmagar de moralismos e condenações. Em suma, se sua intenção for falar palavrões para irritar seu próximo, você não usou o conhecimento como devia.
#Prosador
Link da Superinteressante:
<https://super.abril.com.br/ciencia/a-ciencia-do-palavrao/>
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Imagem retirada em:
<https://www.google.com.br/amp/www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/tecnologia/2017/05/31/interna_tecnologia,598890/amp.html>
Acesso: Novembro, 2017.
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