quarta-feira, 29 de novembro de 2017

O bicho (Análise)



"Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem".
-Manuel Bandeira
 
      Este poema, composto por Manuel Bandeira, reflete de forma simples e prática uma problemática que existe desde que o mundo é mundo: a fome. Seu talento para expressar em versos questões sociais é nítido neste poema. O autor começa com uma expressão que denota algo comum do cotidiano: "Vi ontem um bicho". Algo recente e sempre presente na sociedade; a princípio "o bicho" não é especificado, dando a entender que era um animal. Este bicho estava na "imundície do pátio", ou seja, um ambiente não muito agradável e incomum para um ser humano, reforçando a hipótese de ser um animal. Percebe-se que ste bucho estava desesperado e faminto, pois "quando achava alguma coisa, não examinava nem cheirava: engolia com voracidade". Era um ato de sobrevivência; nesta situação a comida não era um a aperitivo ou algo a ser apreciado, mas uma questão de sobrevivência. Ao relatar o que o bicho não era, o autor coloca uma escala: "não era um cão, não era um gato, não era um rato", mas ao descrever ser este "bicho" um homem, usa expressão ambígua "meu Deus". A intenção dele era passar a impressão de espanto, ao descobrir que o bicho era um homem. Um honem que saiu de sua condição natural e virou bicho, um animal ao engolir e com voracidade a comida, movendo-se por instintos somente. Outra interpretação era que ao dizer "meu Deus" o eu lírico ao se espantar,clamava pela intervenção divina em meio ao caos constatado. Decerto, a mensagem a ser refletida é a constatação da pobreza e um protesto contra a banalidade que se vê hoje em dia. Já é comum para nós, humanos, banalizarmos o caos da fome, justamente por convivermos com ela. Manuel Bandeira publicou este poema em 1947, depois do pós-guerra (Segunda Guerra Mundial), onde o caos e a pobreza trouxe, talvez, a reflexão ao autor. A fome é consequência do caos instaurado pelo egoísmo e pelas guerra humanas, que ocorrem pela nossa natureza decaída. Desta forma, a nossa pergunta é: temos sido animais no trato com o outro, ao tratarmos pessoas nessa condição como bichos? As guerras e a indiferença... indicam que sim!
#Prosador

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Imagem disponível em:
<http://barrigudanews.blogspot.com.br/2017/03/o-bicho-manuel-bandeira.html?m=1>
Acesso: Novembro, 2017.

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