quinta-feira, 5 de julho de 2018

O Grito da Alma




"Oh, alma vivente! Absorta no fracasso, fustigada pela saraivada de pedras que te enterraram e reduziram-lhe ao pó. Grita! Grita! E ainda gritas novamente! Quem te enterraste e sepultaste essa tua existência?" Pergunta o Espírito que tudo vê. E a alma diz entre soluços de pesar e desespero: "Outra alma semelhante... ela matou-me com sua espada afiada e estilhaçou-me;  fez-me provar o inferno existente no aqui e agora. Com suas palavras, desumanizou-me e fez afogar-me no mar de amarguras". Então o Espírito que tudo vê retrucou: "E quem induziu-o a acreditar em tais palavras sacripantas e a deixar-se penetrar por essa espada que te reduzistes ao inferno em vida? Não és tu, ó alma manca e amargurada, que acreditastes em todas estas oralizações vindas de outra alma nefastamente amargurante?" "Tens razão..." murmura a alma fustigada por saraivadas de pedradas de palavras pontiagudas e homicídas; "me deixe morrer! pois acreditei ser o que quiseram-me que eu deveras fosse; deitei-me em tal caixão que fizeram contra mim e percorri tal trilha de espinheiros adornados sadicamente para que eu passasse pelo caminho sangrando-me de dor". E o Espírito que tudo vê disse: "Esta outra alma que reduziste-te a pó e cinza és tu mesmo... fizeste-te de ti um amante da desgraça e devoto da tragédia. Pois tu aceitaste e refletiste o eco do nada. Aceitou o eco de moscas que zombaram em teu ouvido e tornaste-te o que elas bem quiseram o que tu fosses." Diante de tal constatação imputada pelo Espírito que tudo vê... a alma não exitou arrazoar mais, tampouco procurar palavras ou ressuscitar palavras de morte proferida pelas moscas. Então... em aparente silêncio, levantou-se e foi embora. A cada mosca que aparecesse com zunidos moribundos...  desviava-se e fazia-se de surda para tal gentalha alheia fustigante. Destarte, Alma reviveu; triunfante caminhava sob o solo seco e rachado da existência repleta de indecências.
#Prosador

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