Nesse texto vou esclarecer e provar porque é correto dizer que os ateus têm fé na inexistência de Deus/Deuses e porque também nutrem crenças com base na epistemologia e seus conceitos básicos:
A epistemologia (teoria do conhecimento) analisa o conhecimento religioso, filosófico (incluindo muitos outros subtipos) e científico. Os alicerces da epistemologia se baseiam no entendimento sobre: 1) o que é conhecimento. 2) o que é crença. 3) o que é fé. Depois disso ocorre a análise sobre essa construção do conhecimento mediante estes elementos que estão presentes nessa construção. Então vou definir brevemente esses elementos, apoiado no livro "EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS" de Paulo Augusto Seifert, que contém as noções básicas sobre a área da epistemologia:
1)CRENÇA: é algo que todos possuem, inclusive os ateus militantes que se julgam detentores do conhecimento científico e sem nenhuma crença. A crença não é vinculada ao sentido religioso somente, mas está presente em todos os elementos. Acreditamos em coisas objetivas e alvo da ciência. Para que algo se transforme em conhecimento, antes deve passar pela crença. Se esta crença possui evidências suficientes de que é verdadeira em algum momento e há um consenso, então surge daí o conhecimento. Acreditamos que existe um mundo físico externo que não depende da nossa percepção; entretanto, esta crença não é autoevidente e não pode ser provada, mas se configura em uma convenção aceita por todos e desta crença básica surgem outras crenças pautadas nesse pressuposto, isto é, de que existe um mundo independente do olhar humano.
2)FÉ: A fé também está presente em um ateu, visto que ela vai além da famosa fé religiosa; então é correto afirmar, epistemologicamente, que um ateu tem fé. Isto é baseado na epistemologia e nas definições filosóficas sobre fé que transcende o âmbito religioso. E o que seria a fé? Segundo o autor: "...fé seria um tipo de crença. Geralmente o termo está ligado a crenças religiosas, mas não é exclusivo delas." p. 12. Portanto, tanto um ateu como um religioso possuem fé em algo! A diferença é apenas o objeto de sua fé. E a fé é um dispositivo que valida a crença básica, ou seja, de uma crença que não pode ser provada, neste contexto a existência ou inexistência de deuses e vida após a morte. Dessa forma: o ateu tem fé na não vida após a morte e na inexistência de divindades; o teísta tem fé na vida após a morte e na existência de sua divindade. Por conhecer este grupo, digo que alguns podem se sentir desconfortáveis porque pensam que o ônus da prova pertence aos teístas. Entretanto, o ônus é para todos no fim das contas, visto que essas crenças não podem ser falseadas pela ciência, bem como a crença na existência da realidade externa da forma como acreditamos, bem como outras ideias não falseáveis.
3)CONHECIMENTO: O conhecimento derivado do grego possui três acepções: 1) Doxa no sentido de opinião, baseado na experiência e senso comum; 2) Sofia, baseado na longa experiência de vida e vivências práticas; e 3) Episteme, que representa uma verdade forte, inquestionável e aceita por todos em pleno juízo não incluindo terraplanistas; episteme seria a famosa "verdade absoluta". O conhecimento possui aproximação maior com a noção de episteme nesse caso, mas passa por um gradual que parte da crença básica até as crenças que possuem evidências o suficiente para serem medidas e testadas até chegar ao status de conhecimento, como por exemplo: a noção de que a Terra gira em torno do Sol, que foi testada e corroborada pela ciência e que hoje é uma verdade inquestionável. A noção de que todos iremos morrer, também!
Desta forma não podemos, caros colegas aspirantes ao conhecimento, tratar o conhecimento sobre todos os assuntos como "episteme" e de forma arrogante, principalmente conceitos não falseáveis e subjetivos. Podemos falar do ponto de vista de um conhecimento estilo "doxa" ou "sofia" que dão a entender que nosso discurso é passível de ser questionado e discordado. Mas o nosso instinto agressivo, mesmo em forma intelectual e erudita, nos induz a querermos destruir premissas contrárias à nossa sem ter em mente que o nosso próprio conhecimento é incerto na maioria das vezes e que está apoiado em crenças e na fé. Somos todos gigantes em pés de barro e ganhar uma discussão, como demonstrou Schopenhauer, não significa que se está certo ou que possui a verdade. Significa apenas que: somos bons em argumentação.
-Gabriel Meiller
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