quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

"O Jesus que é tudo e é nada"



       Ao ler os Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), que são os registros da vida histórica de Jesus Cristo por meio destes observadores, percebi a diversidade em que eles relatam Jesus. Mateus e Lucas preocupam-se muito com as genealogias e em registrar de forma específica sobre a origem das promessas da vinda de Jesus e seu cumprimento. Talvez porque o público alvo deles eram os judeus, em sua maioria. E se importavam em compreender um Cristo que confirma as profecias da Torá. Já Marcos, possui um relato mais breve e simples, relatando muito mais a vida prática de Jesus e que validava seu ensino e impressionava o povo. Seu público alvo eram os romanos e por isto era um livro pragmático, isto é: direto ao ponto. Mas eu gosto muito mesmo de João; João não estava nem aí para a cronologia dos fatos de Jesus e muito menos para detalhezinhos. João era desapegado ao politicamente correto, preferia mais o lado poético de se apresentar Jesus. Ele inicia falando sobre o Verbo, ou a Palavra (Logos, no grego), que era conhecido pelos gregos como o Deus que fez todo o universo por meio da sua palavra, que desencadeou tudo (e também pelo "deus desconhecido" como registram alguns filósofos na história). Desta forma, João fala ao público grego e erudito, que filosofava e procura a síntese em Jesus: de ser divino e humano ao mesmo tempo. Para os gregos, quanto mais divino era um Deus, mais humano ele seria. O relato sobre Jesus ter chorado diante da morte de Lázaro (Jo 11:35), e sobre o encontro com a mulher samaritana (Jo 4), que era intolerável aos olhos dos homens e ainda mais dos judeus (machistas na sua cultura e odiavam samaritanos); também há relatos sobre a defesa de uma mulher flagrada em adultério, em que os judeus queriam apedrejá-la, mas Jesus os impediu... e uma série de outras coisas.

Todos esses relatos comprovam a natureza irresistível de Jesus para os que precisavam de amor e misericórdia. Mas outra peculiaridade do que João nos conta, choca ainda mais e mostra o lado divino de Jesus. Versos como: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (14:6); "Eu sou a ressurreição e a vida" (11:25); "Eu sou a luz do mundo" (8:12) "Eu sou o pão da vida" (8:35); "Eu sou o Messias!" (4:26) e "Se alguém tem sede, venha a mim e beba" (8:37). O que essas afirmações significam? Bem, significam que nada existe de forma abstrata em Jesus, pois ele disse a Tomé quando lhe perguntou o caminho: "Eu sou o caminho...", enquanto Tomé queria uma rota, um mapa, uma direção, Jesus era a personificação dessas coisas.   "Pois nele vivemos, nos movemos e existimos..."
(Atos, 17:28 - Nvi). Esta afirmação feita por Paulo, no Areópago de Atenas, é uma citação do poeta grego Epimênides (600 a.c), em que os gregos definiram este conceito sobre o Deus que criou tudo por meio da sua palavra, e por isso, tudo que existe, existe nEle. Por isso, Jesus não tinha amor, vida, paz, ressurreição e etc. Esses conceitos não são abstratos dele, mas ele é tudo isso; ela era amor paz e etc... exatamente por todos esses conceitos e princípios emanarem dele na criação do universo. Assim, temos um Jesus que é tudo; mas também que é nada. E por quê?  Porque os relatos de Mateus, Marcos, Lucas e João, mostram um Jesus simples; um Jesus do povo. Aquele que é "comilão e beberrão" e que anda com galileus (um dos menos importantes da época e que estavam mais próximos dos gentios). A divindade de Jesus o tornava tão humano que Judas precisou combinar um sinal para os guardas que iriam prendê-lo: um beijo. Pois se os soldados chegassem sem ninguém para identificá-lo, certamente não o reconheceriam. Mas se sentassem na roda e ouvissem Jesus falar, saberiam quem seria ele, pois adentrariam no seu interior profundo e divino-humano. Desta forma, ele é tudo e nada.
#Prosador

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Acesso: Dezembro, 2017.

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