sábado, 27 de janeiro de 2024

Fuga da realidade



Uma dose de álcool e então o inconsciente aflora; duas doses de álcool então a libido aflora... três doses de álcool então bate a crise existencial. Somos o que somos porque queremos? Ou somos o que somos porque o destino nos fez assim? O álcool, bem como toda droga alteradora de consciência nos permite conhecer outras facetas de nós mesmos: nossa animalidade, nossas paixões, ódios, rancores... e por aí vamos navegando dentro de nós.  E aí nos pegamos analisando nossas versões passadas e toda nossa covardia; nos aborrecemos com nossas limitações e lamentamos nossos erros. Um espírito do progresso nos assola quando desejamos voltar atrás e apagar nossos erros.  O grande motivo de nossa inquietude é a grama mais verde, ou seja, o fato de nos entristecermos com a comparação injusta com outros contextos e com o delírio de que poderíamos estar em um lugar melhor, com pessoas melhores, com contas bancárias maiores. Somos seres da falta, desejantes do que sempre nos falta, como diria Lacan. O hiato, a coluna, o vazio... tudo isso é desejado justamente porque não o temos. Somos seres da incompletude, ou seja, o que nos intriga é o que sempre está faltando.  A gratidão, o contentamento, o real... odiamos essa monotonia do que temos. Queremos o que foge do nosso alcance, clamamos pelo sofrimento da grama mais verde. Desta forma, de utopia em utopia, perseguindo o inalcançável... vamos deixando a vida passar, rezando para ela correr...  matando o que nos mata: o tédio e a falta de dopaminas.  O que pode nos entreter senão a tristeza, a angústia que faz o tempo voar, nos absorvendo no tempo? É por isso que o sofrimento nos seduz e que a euforia é nosso deus. A drogadição, o desejo desenfreado, os pulsos riscados e toda sorte de gritos existenciais que nos fazem fugir da rotina... amamos uma distração, uma alienação da vida como ela é.


-Gabriel Meiller

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

A culpa é do capitalismo?

 

Quem nunca leu ou ouviu a expressão: "é culpa do capitalismo!"? É muito frequente que pessoas que se considerem inteligentinhas, providas de  algum senso sociológico ou filosófico façam essas afirmações. Eu mesmo já fiz tantas afirmações ingênuas destas como se o capitalismo fosse o grande carrasco da humanidade. Entretanto, devemos concordar em partes  com essa afirmação desgastada, preguiçosa e em muitos pontos errônea. Vamos voltar ao conceito de hipóstase? Uma hipóstase é um conceito imaginário ao qual muitos atribuem características concretas, como por exemplo: os sistemas imaginários humanos em geral. O sistema não existe de verdade, mas é apenas uma extensão fictícia de um acordo mental de pessoas que convivem na sociedade. Uma empresa como o Mac Donald's não existe de verdade, sendo apenas uma empresa que é feita por meio de muitas pessoas trabalhando de forma cooperativa e que está em vários lugares do mundo. O fato de nos prendermos às hipóstases faria com que culpássemos o Mac Donald's se por acaso encontrassemos uma barata em nosso lanche.  Certamente iríamos dizer que o Mac Donald's é uma empresa horrível. Mas quem é o Mac Donald's? Aquele restaurante do meu bairro ou qualquer franquia do Mac Donald's em todo o planeta? A hipóstase mais atrapalharia do que ajudaria e provocaria tremenda generalização que seria absurdo culpar toda uma rede de fast food por um acontecimento pontual em uma das franquias. 


O mesmo podemos aplicar em qualquer outro conceito, como por exemplo: o capitalismo. O que é o capitalismo? Mais um sistema hipostático vazio de significado se não for incluído aí o ser humano, ou melhor, os seres humanos que o integram. A acusação de quem culpa o sistema capitalista consiste em se colocar de fora dele, como se esses não agissem como este 'malvado' age. 


Entretanto, o sistema capitalista é uma extensão da sociedade mundial (excetuando algumas sociedades que vivem de outra forma e não estão englobadas diretamente nele) e estamos incluidos nele. Quando culpamos o capitalismo, culpamos a nós mesmos e não somente aos donos do capital. Se os donos do capital existem, isso ocorre  pela ganância humana que é um produto evolutivo dos tempos primitivos dos hominídeos que foram moldados em seus instintos para acumular todos os recursos caso viessem os tempos de seca.  Entretanto, evoluímos socialmente e civilizacionalmente, mas nossos instintos ainda são daquela época. E a agressividade, as guerras, a desigualdade e a ganância são uma consequência desses instintos ainda presentes no homem atual. Antes do capitalismo a desigualdade existia na idade medieval e na antiguidade. O capitalismo, dessa forma, não é o grande vilão da humanidade. A hipostatização que fazemos através do capitalismo é uma fuga para que não culpemos a nós mesmos pelo caos em que a humanidade vive, sendo esta a nossa covardia. E o moralismo à esquerda tem sido cego e alienado ao se colocar como o redentor da humanidade que está fora das maldades do sistema, como se não fosse também do sistema e não sofresse da dualidade em ser o opressor e o oprimido. Eis aí uma grande contradição: se ver como redentor ao invés de agressor; vítima ao invés de algoz. 


E os que desejam o fim do capitalismo  provavelmente não estão preparados para a nova configuração que irá surgir depois dele. Ninguém estará preparado para dizer adeus ao que conquistamos em níveis tecnológicos, sociais e culturais.  A frase popular "Você não sabe o que está pedindo..." é a mais adequada nesse contexto dos que querem destruir o sistema ao invés de reformá-lo. 


-Gabriel Meiller

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

A filosofia de um psicopata

 


(Texto fictício e totalmente voltado à leitura de entretenimento; quem assistiu Dexter, Dhamer, ou filmes de violência deve entender que é um assunto bastante presente e não oferece, neste texto, nenhuma apologia a quaisquer atos de violência ou crime, apenas um retrato poético e com fins de entretenimento)  


Mea culpa... penso eu junto aos frágeis superegos implantados em mim. Esses artifícios vagabundos que meus criadores tentaram implantar em mim de forma malsucedida (pois eu percebi a encenação hipócrita deles), foram totalmente inúteis. Meu pai: alcoólatra, canalha agressor de mulheres, viciado em drogas em geral, como por exemplo: mirtazapina, cocaína, paracetamol, e outros meios para afogar sua alma deprimida. Minha mãe: gélida com o mundo, indiferente, mas extravasadora em boates clandestinas... aquela que coloca chifres em meu pai, com atos que demonstram que ela é muuuuito amada por meus outros inúmeros papais. 


As pessoas são tão hipócritas, vivendo em seus mundinhos de ilusões, esperanças para momentos fortuitos da vida, como por exemplo: conclusão do ensino médio, entrada e saída na faculdade, o começo em uma profissão de salário mediocremente suficiente para que não desejem crescer e nem suas demissões... são todos um bando de contentes. Hahaha... "contentes", entenderam? Aquelas pessoas que olhamos para elas, como se fossem uma criança procurando minhocas na terra escura, e sorrindo de forma exagerada por achar tal minhoquinha; e então continuamos olhando com um olhar misericordioso e que demonstra o quanto tal criança é ingênua por se divertir com tão pouco. E então exclamamos afavelmente: "Óh, contente!" Ha ha ha ha ha ha...


Os seres humanos em geral são um bando de contentes, seres ingênuos e inofensivos... totalmeeeente inofensivos. Às vezes quase sinto pena em abatê-los e deixá-los algumas horas em meu armário até o momento em que faço tal desova de seus corpos. A vida é fugaz, senhores. Saibam disso e aproveitem com alegria contente seus próximos momentos, porque nunca se sabe quando chegará os vossos destinos. Os acidentes são as partes trágicas para as vítimas desavisadas, mas alguns mortais têm a honra quando cruzam meu caminho e entram para uma forma honrosa de morrer. Tadinhos... são pessoas contentes demais, passam da simples observação das minhoquinhas e colocam elas na boca. Essas pessoas já aproveitaram demais a vida, passaram do direito de viver tão ingenuamente. A elas eu ofereço a passagem de mundos e as coloco no barco do Caronte que as transporta em segurança a seus destinos finais, he he he. 


Mas eu não sou tão psicopata assim ao ponto de comer uma tortuguita diretamente pela cabeça... eu a como de forma ritualística. Minhas vítimas são lentamente abatidas, ao ponto de sentirem o mundo com as mais diversas sensações e níveis de dor. Ah... a dor! A dor me encanta... vocês já pararam para pensar na filosofia da dor? A dor ressignifica a vida e dá a ela intensidade na mesma medida que o prazer. A dor está tão perto do prazer... já cantava Fred Mercury. Sem a dor, o prazer não existe, bem como o bem não pode subsistir sem o mal como seu alicerce. Vejam o nosso Senhor Jesus Cristo... não seria ninguém sem Lúcifer corrompido em Satanás e a história da redenção seria perdida. Sua honrosa e intrigante morte na cruz, que nos trouxe a paz, só foi possível pela trama diabólica de nosso corajoso Judas, influenciado por Satanás. Aí está o homem, senhores, o verdadeiro redentor da humanidade: Judas! 


É a ele quem cultuo, com a finalidade de realçar de forma esplêndida a justiça e a santidade de nosso Senhor Jesus Cristo.  Eu faço o trabalho pesado de Judas ao trair o bando de contentes e dá-los um desfecho mais contido, que equilibra e desconta todas as alegrias exacerbadas que tiveram durante a vida. Entendem? Acredito que vocês entendam... mas se não entendem, eu posso explicar: existe uma lei que o culto à Judas, de uma seita ocultista, é bem claro: quem vive intensamente e de forma demasiada, consome de forma mais rápida o pavio de duração de sua vida. Como se fosse um incenso que não se apaga, mas possui sua chama muito acesa e consumidora de forma voraz. E por causa desse saldo extremamente positivo em que a vida alegre e eufórica consome o tempo cronológico deste contente... eu sou enviado como anjo da morte. Como um executor que apaga a vela que já está chegando ao seu final. 


Vejam bem, meus caros, não é algo pessoal essas violências que cometo; é apenas minha função, como mais um ente da natureza. Eu sou mal e isso não deve ser levado como algo ruim, mas como um mecanismo inerente à vida; eu sou um servo da morte e sirvo a ela, assim como o leão abate sua preza, ou como os vulcões acabam com o solo pelo fato de expelirem lava do interior da Terra.


Desta forma, tenho o poder de equilibrar as energias neste mundo, como tudo deve ser. Nem muito contente, nem muito melancólico; aos que esqueceram da vida e a odeiam... dou a eles motivos para amarem. Não os mato; eu decepo algumas de suas partes e dou a estes uma segunda chance, um renascimento nesta vida. Os deixo de frente com a morte para que percebam o quão valiosa é a vida e depois... os liberto com as marcas de Judas; e poderão dizer: carrego em mim as marcas de Judas e por isso amo esta vida.


-Gabriel Meiller, criador do personagem.

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

A libertação de Sísifo de sua síndrome de estocolmo



"Mais fundo... ", disse a voz de dentro da caverna cheia de ruínas. "Mais fundo tu terás que imergir para entender o que te aprisiona nesse narcisismo inquietante", complementou ela. E então eu pensei: Mas esse é o fim da caverna, como posso ir mais fundo? E então fechei os olhos indignado, suspirando de impaciência e após alguns segundos eu os abri novamente ao ouvir um suave barulho de água. Me deparei com um oceano denso em minha frente e deveras profundo. Eu estava em um barco pequeno na superfície e as águas estavam calmas, mas algo me dizia que o fundo era agitado e obscuro. 


Ah, o meu inconsciente não erra e me mostra em metáforas concretas e profundas o que a mim é necessário para a saída de turbilhões psicológicos que ainda me afligem e conferem a mim tal aspectos de personalidade flutuantes e dantescos. O que na superfície é forte e confiante, no fundo é bravio e instável, desconfiado e raivoso. O meu leito oceânico povoroso é tão traumático que me leva a distorcer algumas coisas que refletem na minha superfície oceânica. O que está dentro distorce e ressoa no que está fora.  Mas de forma direta e sem enfeites, do que eu estou falando por trás da minha máscara reafirmativa de erudição poética? 


Que sou um sobrevivente... ou pelo menos ajo como um sobrevivente; daqueles guerrilheiros brutos que se fecham e só confiam em si mesmos. A estes vermes desconfiados, mas confiantes em suas habilidades de rastejar pela floresta temendo novos ataques, reservo a minha metáfora para falar de quem incorporei em meu modus operandi.  Em o "Arqueólogo de ruínas" eu comecei esse desnudamento sobre mim e pretendo continuar o que tinha começado anteriormente. E, para que ninguém use minha escrita como julgamento e humilhação para jogar coisas em minha cara,  eu mesmo vou me humilhar e me ridicularizar aqui e agora.  Farei isso por vocês, meus inimigos (imaginários?), por achar que eu mesmo devo me punir por ser ridicularizado em minha infância e adolescência e não ter feito nada diante dos meus agressores. E dessas ridicularizações e do meu jeito passivo de ser zuado e não fazer nada... de tudo isso surgiu esse oceano de modos operandi narcisista de me colocar como vítima em muitas coisas e de constantemente tentar me reafirmar como uma pessoa capaz de algo. 


Entendem com quem vocês estão falando? Com um verme que foi pisado e ainda dará um show de se expor ao ridículo para entretê-los.


      Ha ha ha ha... olha como eu sou bondoso, humilde e me importo com o entretenimento de vocês, senhores,  às custas da minha ridicularização psicanalítica. Então vamos lá, vou começar explicando porque estou fazendo isso: porque eu sofro da síndrome de estocolmo. Eu dou razão aos meus sequestradores e agressores, no caso os que me zoaram na adolescência, e dou a eles razão, através do meu autoboicote. Eu penso de forma inconsciente: "eles estavam certos... se eles me chamaram de feio, fraco, burro, dentuço, choquito, um pega ninguém... é porque estavam certos, eu era tudo isso mesmo! É por isso que a minha desconfiança é a confirmação deles e de seus olhares aguçados. Então por que irei fingir que sou sensato? Irei me ridicularizar, ao menos serei mais honesto!" 


E... siiim, senhores! Estou escrevendo com linguagens metafóricas, mas que carregam uma seriedade afiada. Eu não sei lidar bem com a rejeição, por isso instintivamente eu não me aproximo de muitas pessoas e espero elas virem até mim. Eu não sei lidar bem com a rejeição, e é por isso que tudo que os outros falam eu levo como um ataque pessoal e antecipo a possível "rejeição imaginária" que está acontecendo na minha mente. Eu não sei lidar com a rejeição, então tento parecer sensato e finjo que concordo com todo mundo quando estou conversando pessoalmente; eu não sei lidar com a rejeição... e por isso prefiro o isolamento que me garante evitar a dor dela, mas que me traz outras dores, como a dor de ser alguém quebrado existencialmente e desajustado; eu não sei lidar com a rejeição e por isso não sinalizo o que me incomoda nas poucas relações que tenho e por isso me afasto sem sinalizar... e isso estremece o pouco que tenho. 


Imagens mentais de desaprovações  de pessoas me invadem e eu me crucifico com a rejeição, mesmo que a pessoa não tenha me rejeitado de fato. E, se por acaso, eu de fato fizer alguma merda, cometer algum erro, pisar na bola... aí será a confirmação de todas as minhas desconfianças imaginárias. E eu direi: "Ta vendo, esses fulanos não gostavam de mim e eu estava certo em me manter longe e vigilante com eles." E então os meus delírios mentais são reforçados com sucesso e eu me ponho a me isolar e achar que o mundo não gosta de mim, expressando um narcisismo negativo e sem limites. Minha visão é contaminada por esses traumas, que distorcem minha visão de mundo. Que me fazem sempre pensar que tenho que pensar só em mim, porque sou só eu e eu somente. 


E lá vai Sísifo,  novamente, empurrando a colossal pedra de traumas psicológicos que distorcem o presente e contaminam o seu futuro. Como ele pode se salvar? Largando o passado no passado; deixando a pedra ir embora... não enxergando tudo como um ataque, nem se sentindo obrigado a se moldar em favor das pessoas; não tendo medo de se expôr ao ridículo, nem do que os outros irão pensar... dizendo aos mais abusados ou pessoas sem tato: "não estou contente com isso, poderia não fazer mais?" Assim, Sísifo sairia por aí calando os sequestradores e saindo da casa deles, desfazendo a síndrome de estocolmo. Sísifo se libertaria perdoando seus algozes e desconfiando menos da humanidade, inclusive de si mesmo.


-Gabriel Meiller

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

A boca e suas considerações psicanalíticas


A boca é um órgão (ou um conjunto deles) primordial  para o ser humano e para a teoria psicanalítica. Por meio dela as pessoas realizam atividades biológicas, psicológicas e sociais. "Fulano morreu pela boca." pode carregar inúmeras conotações. Figurativamente alguém pode morrer pela boca ao falar demais e ser eliminado por inimigos; literalmente alguém pode morrer pela boca ao comer algo envenenado, ou por fumar e beber demasiadamente. A boca é um meio de trocas, inclusive sexuais para os mais gulosos(as), hehehe. 


A forma de um recém nascido conhecer o mundo é pela boca e pelo prazer de experimentar as sensações do mundo por meio dela. Foi por meio desse prazer e dessa curiosidade que um dia peguei minha irmã, quando tinha  uns 2 ou 3 anos, colocando um piolho de cobra na boca. Na verdade eu vi a cena após ela ter cuspido o animal cheio de saliva e conclui que ela experimentou uma iguaria não muito gostosa. 


As regressões a estágios anteriores do desenvolvimento, como postulou Freud, principalmente aos estágios de prazer da fase oral, são tentativas dos adultos estressados em lidar com os problemas da vida. E por isso usam as zonas erógenas mais primitivas de prazer: boca, ânus, órgãos genitais masculino e feminino. A maioria dos vícios estão relacionados a essas estruturas: compulsão alimentar, alcoolismo, tabagismo (boca); compulsão sexual (boca, por meio do sexo oral para os que gostam de colocar "coisas sujas" na boca he he he); ânus (para os safadões e safadonas que gostam de agasalhar um kibe); e genitália masculina e feminina para os que gostam do que já sabemos muito bem do que se trata e que podemos chamar de "lepo-lepo" ou "bater bife".   Há ainda os fofoqueiros, que sentem prazer em falar, bem como os palestrantes que também amam usar  oratórias que encantem a plateia. 


Desta forma, seja como for, que cada um não se prive de seus vícios para que não caia em loucura, mas que os usem de forma menos letal e prejudicial possível, equilibrando o prazer/sublimação do estresse com os excessos dignos do homem pós-moderno.


-Gabriel Meiller

sábado, 20 de janeiro de 2024

O momento em que Sísifo largou a pedra monte abaixo

 


O cínico é aquele que despreza a seriedade da vida de alguma forma. E para o desprezo consciente de algo, não somente por ignorância e imaturidade, é necessário ter conhecido a vida e seus meandros de forma minuciosa. Um cínico é um apostador, daqueles bravos e bem seguros do que fazem.


A ironia, o sarcasmo, são bofetadas na cara dos fiéis que acreditam cegamente em seus ideais. O cínico é aquele que se diverte com a crença alheia em um ideal e até finge acreditar igualmente. "Oh, amém, irmãos... amém!" expressa ele. E no momento que todos se viram, pensa: "Para o diabo que vos carregue, bando de imbecis". 


Como diria meu professor de matemática do fundamental: "Malandro é malandro e mané é mané; mas tem muitos manés que se acham malandros." Ah, muitos por aí desejam ser verdadeiros cínicos e se esforçam por  desprezar a seriedade com que muitos tratam a vida. Tamanha seriedade fez com que Camus escrevesse seu ensaio, chamado: O Mito de Sísifo. E o mané que se acha malandro é aquele que aprecia o cinismo, mas não examinou o que acredita desprezar, agindo como um manezão... gostaram dessa? Eu nem fiz muito esforço para escrever isso, pois já vi muitos manezões e já fui muitas vezes um. 


Ah, senhores... quem nunca foi um tremendo manezão, que role em mim a grande pedra de Sísifo. Mas eu fico muito feliz em falar sobre isso, porque eu não sou mais manezão e posso rir de quem é... he he he. Nunca fizeram isso também, senhores? São, então, aqueles defensores do politicamente correto? Já vou avisando que o politicamente correto é uma moral de manezões. Oh, desculpem a ofensa, me deixem acrescentar: são manezões do bem. Melhorou??? 


Ha ha ha, eu sei que gostaram dessa.  E eu uso essa moral, sim... mas não como vocês acham. Eu a uso para enganar trouxas como vocês; eu finjo acreditar nessas babozeiras e me divirto com quem me leva a sério. 


                 ... HA HA HA HA HA ...


Oh, desculpem. Eu não quis dizer isso, senhores. Eu só estou dizendo que é muito fácil ser um cínico e fiz uma demonstração exemplar de como posso ser um cínico exemplar. Mas eu não sou, acreditem! Eu juro por Deus que não sou um cínico e quem sabe sobre minhas crenças pessoais saberá do quão sério estou falando. Na verdade... eu sou uma pessoa a favor da empatia e do perdão, tanto sou que eu perdoei a minha irmã por pegar minhas coisas sem pedir, certa vez. Sim  eu perdooei, senhores; depois de acabar com o whey protein dela, jogar uma garrafa de vodka que ela comprou pelo ralo da pia, comer o strogonoff que ela fez com os ingredientes dela e... ter mandado uma mensagem furiosa, dizendo que ela é uma parasita infernal que vive pegando minhas coisas sem nem me consultar. 


Viram como eu sou razoável? Não acreditam? Ah... ta bom, então!  Querem saber de uma coisa? Eu só falei que não sou cínico pelo medo de ser cancelado. Mas eu sou e continuarei sendo, só de raiva!  Nos dias atuais não se pode demonstrar mais nada, nem sequer preconceitos dos anos 80 sem ser cancelado pela "galerinha do bem". Aaaah, essa galerinha... me dão muito trabalho, viu; tenho que medir minhas palavras o tempo todo para fazê-los felizes e quiçá as vezes ainda uso gênere neutre com elus. Meu cinismo tem limite com estes diabinhos que se acham anjos para a salvação na Terra. 


Concluo, então: o cinismo é para fortes, senhores! Para aqueles que já percorreram todo o monte como Sísifo e não encontraram nenhum sentido em continuar empurrando a pedra, largando ela de vez. O cinismo é a revolta contra o lado negro e hipócrita da civilização. Digo melhor: o cinismo é uma revolução constante e silenciosa contra tudo isso, pois a revolta logo acaba e é vista por todos. Mas a revolução... é o que ninguém sabe e nem vê, até o momento em que ela tenha dominado a tudo e a todos. 


-Gabriel Meiller

Quem vocês dizem que eu sou?



Eu sou um grande escritor, mas tenho dúvidas sobre os verdadeiros motivos que me tornam um bom escritor. Pensando aqui com meus botões, tenho uma bela criatividade, algo quase que de outro mundo. Alguém pode me dizer um "ai"; rapidamente eu disseco as propriedades do "ai", faço as divisões de cada átomo das duas vogais e faço as interligações entre cada probabilidade das subsílabas de cada "ai". Depois de tamanha escrita criativa eu passo por momentos neuróticos de questionamento sobre o fato de que talvez fosse melhor mudar "ai" por "au" ou talvez "ou". Acreditem, caros leitores, isso muda todo um contexto e por isso os detalhes sonoplásticos devem ser levados a sério.  Oh, este é meu maior defeito: ser perfeccionista... ou melhor: nutrir um perfeccionismo perfeccionista! 


Mas o que me faz um grande escritor  além, é claro, da minha autoestima reafirmativa insegura que precisa sempre se afirmar através dos melhores elogios sobre mim mesmo,   entonados com tom de humildade convictamente arrogante? Essa é fácil: a minha personalidade neuroticamente gramatical que se preocupa com cada  ponto, vírgula e três pontinhos de suspense. Eu me intriguei com tamanha capacidade que consigo escrever por meio de minhas leituras acumuladas. Ah, e um detalhe: só comecei a me interessar por leitura na faculdade.


Mas... talvez meu talento não venha pelos efeitos da neurose; acredite, eu estudei psicanálise e sei diagnosticar as estruturas da personalidade. Meu jeito impulsivo talvez ocorra em razão dos meus fluxos de voz que perpassam minha mente; quando escrevo, brota dentro de mim uma dimensão que não possui a mesma linha de raciocínio que a dimensão da fala. A fala carrega uma lógica mais linear, previsível e não tão fantástica em narrativas. Quando surge uma inspiração surreal, como um burburinho de vozes em meu interior, começo a escrever como se não fosse eu que escrevesse, mas antigas almas se expressando dentro de mim como se um portal entre aqui e lá...  surgisse. "Lá" é aquele mundo que não posso entrar em muitos detalhes compreensíveis, mas apenas sensitíveis. Eu só sei que brotam palavras e expressões de dentro de mim como se não fosse eu que escrevesse.  Me chamem de louco, pessoal... fiquem à vontade para isso. Minha mãe já fazia isso durante minha segunda infância e eu já me acostumei às incompreensões de medíocres como vocês. 


 Cheguei, então, à conclusão preliminar de que sou psicótico e que desconto esses surtos intempestivos que me invadem através de personagens e falas que retratam uma dinâmica que: se eu falasse por meios literais, eu seria incompreensível aos que caçoariam de mim ou simplesmente não me contrariariam por lucidez de que minha realidade é mais distorcida do que a de um neurótico. 


Hahahahahahaha... mas então, senhores, eu posso estar de gozação com todos vocês. Posso ter me passado por um neurótico narcisista que aprendeu somente a encontrar prazer e gratificação fazendo um culto à minha autoimagem e preocupando os senhores com possíveis sinais de que posso ser psicótico e de que posso estar sublimando os meus surtos quase controlados por meio das  exposições tresloucadas dos meus textos. Mas o que os senhores podem não ter pensado, é claro que não, é que eu sou perverso! Minha perversidade se concretiza na zoação que faço com vocês, em minha molecagem proposital. Eu gosto de fortes emoções e na realidade eu gosto de manipular as pessoas para me divertir com a dor e o sofrimento delas. Mais do que isso: gosto da sensação de enganar os outros e sentir que estou em vantagem e, exatamente por isso, eu não confio em ninguém e nem acho que preciso de ninguém em maior grau. A grande verdade, leiam bem, é esta: eu acho muitas coisas  de muitas pessoas um papo furado e uma enorme frescura. Mas eu me finjo de desconstruído, empático e leal... mas rasgo o verbo por trás de muitos. A lei da natureza é esta: você não precisa ser nada, afinal nunca somos, mas deve fingir ser algo para se dar bem. É assim que as empresas ganham dinheiro e prestígio em cima dos otários que acreditam que elas são empáticas, preocupadas com o meio ambiente e que não escravizam funcionários.  Quem se importa com o desfecho do mundo, da minorias ou de alguma coisa que importe? No fundo, no fundo... é cada um por si e o foda-se para todos; ops... desculpem a grosseria, amigos. Como se vocês acreditassem que me importo, né...


             HA  HA  HA  HA  HA...


Mas querem saber? Me importo... eu legitimamente me importo de verdade. Juro pelo meu ateísmo que me importo!  A real mesmo, é que eu sou um neurótico que gosta de chamar a atenção e fazer um drama através do exagero. Um neurótico histérico que ganha atenção no grito e na exuberância. Papai me ensinou isso ao me ignorar até que eu virasse um grande canalha que o desafiasse em tudo e o contradizesse em tudo com bons argumentos para me sentir superior e digno de reverência. Então todos vocês são a projeção que tenho do meu pai e pela relação ambígua de amor e ódio (hora quero destruí-los, hora quero o amor de vocês), que tenho com vocês, revivo e tento consertar na relação com vocês os buracos que sofri em decorrência desse velhote sacana. E viva esse ciclo vicioso... vivaaa! 


O que sou, afinal? Posso ser qualquer um desses personagens mencionados magistralmente. Inclusive eu também posso ser nenhum. Mas... há algo em comum com todos esses enfeites no qual fiz: todos possuem o mesmo fundamento por detrás destas estruturas. Sendo assim, senhores... não sou nada. Não sou neurótico, nem psicótico, muito menos (será?) perverso. Isso tudo é papo para boi dormir... eu sou é um mentiroso! E todo bom mentiroso loroteiro se torna um grande coaching de finanças ou quem sabe... um escritor. 


-Gabriel Meiller

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Peripécias do jovem Nietzsche: o dia em que o jovem calou os piedosos

 


Frederico era um rapaz levado, astucioso em suas maquinações e seu pensamento crítico artimanhoso atropelava intelectuais da velha ordem metafísica. Já em seus vinte e quatro  anos, o jovem andava por detrás da portinhola onde seu tio conversava com seus amigos de fé luteranos. Naquela ocasião era falado sobre o temor a Deus e sua majestade, que esmagava todo rico, forte e poderoso que quisesse se vangloriar de suas riquezas ou poder. Eram três homens de meia idade, e tinham um aspecto que confería-lhes orgulho suficiente para fingir que desprezavam o que os mais jovens ainda brilhavam os olhos: poder e riquezas. 


Eles citavam Jeremias 9:23 e 24, que, paradoxalmente era um motivo de orgulho destes em suas falas de sabedoria sacramental e em suas piedades cínicas. Após um dos cavalheiros dizer que Otto Von Bismarck era um impiedoso que não tinha o temor do Senhor, tornando-se tremendo presunçoso que apenas queria a Alemanha aos seus pés, Nietzsche indignou-se em sua alma. O jovem era tenaz e espreitador o suficiente para saber que ambos defendiam uma Alemanha imperiosa, unificada e expansiva; suas crenças eram apenas uma roupagem elegante de uma moral oblíqua e putrefada como os esgotos a céu aberto das primeiras cidades inglesas do período da Revolução Industrial. 


Se havia algo que o jovem irreverente e desbocado que suportava os purgatórios psicológicos de sua mãe e de sua irmã não tolerava, este algo era a desonestidade dos teólogos: primeiro a autodesonestidade hipócrita; segundo: a desonestidade coletiva e cretina que tornava o homem do século XIX tamanhamente teórico e, sabe-se, decadente! 


 "O que seria isso, senão covardia e medo de assumir a verdade, o que estes velhotes estão fazendo?" quis expressar Nietzsche através  de seu grunhido de desprezo que se fez ouvir por todos após um silêncio taciturno da discussão:    "Ahrr.." 


Então, ao notar que seu grunhido de indignação soou mais alto do que esperava, o jovem perdeu o pouco de pudor que tinha e se pôs às claras na luz da sala. Ao entrar, rasgou em pragmaticidade: "Vocês conversam entre si mesmos falsas virtudes de piedade e valores tão falsos e decadentes que isso me tolhe a discrição. Não puderam enxergam, senhores?"


"Como, jovenzinho?" soltou com ar de surpresa, Frank, amigo do avô do jovem irreverente.  O resto dos senhores que estavam naquela sala não pronunciaram uma palavra, pois já tinham ouvido falar da mania filosófica do rapazote e seu faro epistemológico para julgamento de ideias centrais que formavam a coluna de todo edifício moral. Por isso, apenas o olharam com um olhar que demonstrava um certo misto de admiração velada debaixo do véu de condenação amena. 


Então, Nietzsche proferiu suas máximas: 


Quem não consegue o que deseja, adoece o objeto de desejo para que o fracasso não perturbe a consciência do ente desejoso.  Não percebem? Vós, homens de moral cristã, desejam o bem não porque o desejam de fato, mas porque são arrastados pela má consciência que os admoesta pelas chamas do inferno. Vós quereis desejar o bem, mas se encantam pelo mal.


A bondade do vosso deus é o livramento da punição, não percebem? Não há nada do que se orgulhar a não ser em serem poupados de tamanho extermínio. E com isso o homem não pode se orgulhar em por sua vontade de poder em jogo, tornando-se ativo. Vós,  ao contrário, senhores, são os fiscais reativos do Reino; do Reino daquele deus esquálido aculturado e enfraquecido desde os exílios babilônico e persa. Esse democrata entre os deuses é uma imaginação que estes mesmos alemães a quem vós cometeis o ato de denegrir,  cultuam juntamente com vocês. 


"Ora, moleque... só porque andas a estudar e farejar os livros achas que pode discutir com nossa sabedoria e a soberania de nosso Deus? E ainda me envergonhas na frente de meus camaradas fraternos com esse raciocíniozinho digno de um insolente qualquer como aqueles que andam por aí em prostíbulos e lugares duvidosos. Bem que tua mãe estava certa em tais reclamações sobre teus delírios literários." exaltou o avô, que além de seu antepassado digno de honra, portava sangue de teólogo. 


Então Nietzsche, incomodado com o desprestígio e tamanha desonestidade intelectual do avô por meio de argumentos ad hominem, o encarou com olhos de decepção desprezadora e iniciou um novo raciocínio em tom taciturno e mais melancólico: 


"Um dia desejo o poder, riqueza e as benesses decorrentes de tudo isso e na mesma medida em que tenho e me orgulho de minha sabedoria... sabes por que, nobre avô?


Certamente o avô sabia que a pergunta era retórica e que após breve silêncio, viria um raciocínio sereno e penetrante do jovem Nietzsche que, mais tarde, reconheceria que lhe faltaria ainda as "marcas de ferrugem"  para que fosse levado a sério pela Alemanha, bem como as sonhadas marcas da impossibilidade de acesso, causada pela morte do filosófo, para que este fosse admirado e lido pelo mundo inteiro em mais de uma simples época.


"Porque  é justamente quando tivermos poder, poderemos decidir não usá-lo por pura consciência, como o  deus  do velho testamento de vossas bíblias fazia em algumas ocasiões, quando não se deixava cair no furor e não aniquilava os povos.   Mas os cristãos, sim, vós! Sois parte de uma descendência cultural ressentida que necessita de uma moral de rebanho, bem como fiscais morais. Vós condenais a avareza para que digam não ao perdularismo latente em vós mesmos; vós condenais as mulheres de boa aparência que desfilam sozinhas nas ruas para que vós mesmos não pensem em cair em tentação com elas em bordéis clandestinos; vós não desejais poder e riqueza, pois sabeis que esmagariam os que estivessem debaixo de vossa tutela vingativa. 


O mundo é vontade de poder e o homem deve saber por o melhor de si para fora; ao contrário do que pensais em vosso coração, o homem ativo que se vinga não guarda o rancor que assassina os homens em guerras nacionalistas; um homem irado é um homem disposto a colocar fim em contendas: seja por meio do conflito, seja por meio de uma punição que encerra mais contendas vindouras. Mas vós sois guiados pelos ídolos e a eles reservo meu martelo que ressoará por toda Europa e..."


Mal acabou o jovem a pronunciar estas palavras e seu avô precisou ser contido por seus dois amigos para que não fizesse mal ao rapazote que já não tinha tanta vitalidade física. A mãe e a irmã apareceram após o barulho de gritarias  e vozes que tentavam acalmar a situação constrangedora.


"Novamente, Frederico... novamente? O que falastes dessa vez para que causasse tamanha ira de teu avô...?" perguntou a mãe. 


Ao se virar... não encontrou o rapaz, que tinha saído para espairecer, enquanto se orgulhava em seu coração de ter travado um dos muitos embates desse Ágon intelectual que travaria contra todos os intelectuais,  contaminados pelo sangue de teólogo e pela vã metafísica que deveria ser expurgada da filosofia do século XIX. 


-Gabriel Meiller

sábado, 13 de janeiro de 2024

O BBB como cancelamento alheio para fugir da nossa própria hipocrisia



O que as pessoas enxergam no BBB senão dinâmicas  da vida real que são estereotipadas e dramatizadas? O BBB é um jogo realista que serve muito bem aos expectadores, que no caso somos nós. Fala sério... gostamos de assistir o circo pegando fogo; gostamos de condenar os "machos escrotos" com nosso moralismo esquerdista; ou quando não, gostamos de fazer uma cara de nojo para as mulheres que "se vestem como puta" no caso do moralismo conservador. Acima de tudo, gostamos de um bode expiatório para jogarmos nossa autocondenação em cima dos brothers. Sim, porque nós crucificamos a nós mesmos nos outros pelo fato da nossa consciência pesar em relação às nossas faltas. "Nós" faríamos muito do que "eles" fazem lá. Nós somos reles mortais que estão embrenhados no machismo estrutural, no racismo estrutural, no capacitismo e todos os ismos estruturais. "Nós" somos os que "regulam mentalmente" as roupas "delas", mas que desejaríamos vê-las sem roupas! "Nós" somos as mulheres que reclamam de machos escrotos mas que "pisam" nos bonzinhos porque não são do padrão "forte e  viril" que, por ser "forte e viril", acaba dominando sobre a mulher e dando a ela uma prova dessa "virilidade" de forma nefasta. Somos, então, a mulher feminista de malandro que se contradiz. 


O BBB é um chamariz da nossa hipocrisia, uma armadilha que nos convida a condenarmos a nós mesmos no outro! Nossa covardia de cancelar os outros de longe, revela que somos todos contraditórios e hipócritas: muitas vezes preferimos o padrão rico e inteligente do que o pobre ferrado de grana e feio.  Mas, nesse jogo sofisticado em que nós mesmos nos condenamos, preferimos reprimir essas preferências em nosso inconsciente e condenar esse nosso pecado secular no outro, e crucificá-lo no programa! Dizemos: não, os mais pobres devem ganhar e entrar no jogo, chega de privilegiados. E apesar de muitos desses desejos serem sinceros, quantos também não são apenas uma formação reativa? Uma tentativa de provar a si mesmos de que não quer o velho estereótipo ao invés do "pobre e feio?" 


O moralismo esquerdista, bem como o direitista, são apenas um sintoma de nossa natureza reprimida e binária que não tem coragem de uma análise crítica profunda que cause desconforto em nosso ego.  Em última instância, o BBB é uma fuga do nosso ego frágil e uma tentativa de redenção das nossas próprias negligências através do cancelamento alheio. Somos covardes quando agimos como "a galerinha do bem" ou como "cidadãos de bem".  Estamos sempre fazendo uma divisão imaginária entre bons e maus, justos e injustos. Como se a natureza humana fosse 8 ou 80, ou preto no branco. Não! Nós somos bons e maus, cretinos e anjos com alguém; traidores e leais em diferentes momentos. Não há uma natureza intrínseca boa ou má, somos todos hipócritas porque somos instáveis e sem essência. 


-Gabriel Meiller