sábado, 20 de janeiro de 2024

Quem vocês dizem que eu sou?



Eu sou um grande escritor, mas tenho dúvidas sobre os verdadeiros motivos que me tornam um bom escritor. Pensando aqui com meus botões, tenho uma bela criatividade, algo quase que de outro mundo. Alguém pode me dizer um "ai"; rapidamente eu disseco as propriedades do "ai", faço as divisões de cada átomo das duas vogais e faço as interligações entre cada probabilidade das subsílabas de cada "ai". Depois de tamanha escrita criativa eu passo por momentos neuróticos de questionamento sobre o fato de que talvez fosse melhor mudar "ai" por "au" ou talvez "ou". Acreditem, caros leitores, isso muda todo um contexto e por isso os detalhes sonoplásticos devem ser levados a sério.  Oh, este é meu maior defeito: ser perfeccionista... ou melhor: nutrir um perfeccionismo perfeccionista! 


Mas o que me faz um grande escritor  além, é claro, da minha autoestima reafirmativa insegura que precisa sempre se afirmar através dos melhores elogios sobre mim mesmo,   entonados com tom de humildade convictamente arrogante? Essa é fácil: a minha personalidade neuroticamente gramatical que se preocupa com cada  ponto, vírgula e três pontinhos de suspense. Eu me intriguei com tamanha capacidade que consigo escrever por meio de minhas leituras acumuladas. Ah, e um detalhe: só comecei a me interessar por leitura na faculdade.


Mas... talvez meu talento não venha pelos efeitos da neurose; acredite, eu estudei psicanálise e sei diagnosticar as estruturas da personalidade. Meu jeito impulsivo talvez ocorra em razão dos meus fluxos de voz que perpassam minha mente; quando escrevo, brota dentro de mim uma dimensão que não possui a mesma linha de raciocínio que a dimensão da fala. A fala carrega uma lógica mais linear, previsível e não tão fantástica em narrativas. Quando surge uma inspiração surreal, como um burburinho de vozes em meu interior, começo a escrever como se não fosse eu que escrevesse, mas antigas almas se expressando dentro de mim como se um portal entre aqui e lá...  surgisse. "Lá" é aquele mundo que não posso entrar em muitos detalhes compreensíveis, mas apenas sensitíveis. Eu só sei que brotam palavras e expressões de dentro de mim como se não fosse eu que escrevesse.  Me chamem de louco, pessoal... fiquem à vontade para isso. Minha mãe já fazia isso durante minha segunda infância e eu já me acostumei às incompreensões de medíocres como vocês. 


 Cheguei, então, à conclusão preliminar de que sou psicótico e que desconto esses surtos intempestivos que me invadem através de personagens e falas que retratam uma dinâmica que: se eu falasse por meios literais, eu seria incompreensível aos que caçoariam de mim ou simplesmente não me contrariariam por lucidez de que minha realidade é mais distorcida do que a de um neurótico. 


Hahahahahahaha... mas então, senhores, eu posso estar de gozação com todos vocês. Posso ter me passado por um neurótico narcisista que aprendeu somente a encontrar prazer e gratificação fazendo um culto à minha autoimagem e preocupando os senhores com possíveis sinais de que posso ser psicótico e de que posso estar sublimando os meus surtos quase controlados por meio das  exposições tresloucadas dos meus textos. Mas o que os senhores podem não ter pensado, é claro que não, é que eu sou perverso! Minha perversidade se concretiza na zoação que faço com vocês, em minha molecagem proposital. Eu gosto de fortes emoções e na realidade eu gosto de manipular as pessoas para me divertir com a dor e o sofrimento delas. Mais do que isso: gosto da sensação de enganar os outros e sentir que estou em vantagem e, exatamente por isso, eu não confio em ninguém e nem acho que preciso de ninguém em maior grau. A grande verdade, leiam bem, é esta: eu acho muitas coisas  de muitas pessoas um papo furado e uma enorme frescura. Mas eu me finjo de desconstruído, empático e leal... mas rasgo o verbo por trás de muitos. A lei da natureza é esta: você não precisa ser nada, afinal nunca somos, mas deve fingir ser algo para se dar bem. É assim que as empresas ganham dinheiro e prestígio em cima dos otários que acreditam que elas são empáticas, preocupadas com o meio ambiente e que não escravizam funcionários.  Quem se importa com o desfecho do mundo, da minorias ou de alguma coisa que importe? No fundo, no fundo... é cada um por si e o foda-se para todos; ops... desculpem a grosseria, amigos. Como se vocês acreditassem que me importo, né...


             HA  HA  HA  HA  HA...


Mas querem saber? Me importo... eu legitimamente me importo de verdade. Juro pelo meu ateísmo que me importo!  A real mesmo, é que eu sou um neurótico que gosta de chamar a atenção e fazer um drama através do exagero. Um neurótico histérico que ganha atenção no grito e na exuberância. Papai me ensinou isso ao me ignorar até que eu virasse um grande canalha que o desafiasse em tudo e o contradizesse em tudo com bons argumentos para me sentir superior e digno de reverência. Então todos vocês são a projeção que tenho do meu pai e pela relação ambígua de amor e ódio (hora quero destruí-los, hora quero o amor de vocês), que tenho com vocês, revivo e tento consertar na relação com vocês os buracos que sofri em decorrência desse velhote sacana. E viva esse ciclo vicioso... vivaaa! 


O que sou, afinal? Posso ser qualquer um desses personagens mencionados magistralmente. Inclusive eu também posso ser nenhum. Mas... há algo em comum com todos esses enfeites no qual fiz: todos possuem o mesmo fundamento por detrás destas estruturas. Sendo assim, senhores... não sou nada. Não sou neurótico, nem psicótico, muito menos (será?) perverso. Isso tudo é papo para boi dormir... eu sou é um mentiroso! E todo bom mentiroso loroteiro se torna um grande coaching de finanças ou quem sabe... um escritor. 


-Gabriel Meiller

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