Quem nunca leu ou ouviu a expressão: "é culpa do capitalismo!"? É muito frequente que pessoas que se considerem inteligentinhas, providas de algum senso sociológico ou filosófico façam essas afirmações. Eu mesmo já fiz tantas afirmações ingênuas destas como se o capitalismo fosse o grande carrasco da humanidade. Entretanto, devemos concordar em partes com essa afirmação desgastada, preguiçosa e em muitos pontos errônea. Vamos voltar ao conceito de hipóstase? Uma hipóstase é um conceito imaginário ao qual muitos atribuem características concretas, como por exemplo: os sistemas imaginários humanos em geral. O sistema não existe de verdade, mas é apenas uma extensão fictícia de um acordo mental de pessoas que convivem na sociedade. Uma empresa como o Mac Donald's não existe de verdade, sendo apenas uma empresa que é feita por meio de muitas pessoas trabalhando de forma cooperativa e que está em vários lugares do mundo. O fato de nos prendermos às hipóstases faria com que culpássemos o Mac Donald's se por acaso encontrassemos uma barata em nosso lanche. Certamente iríamos dizer que o Mac Donald's é uma empresa horrível. Mas quem é o Mac Donald's? Aquele restaurante do meu bairro ou qualquer franquia do Mac Donald's em todo o planeta? A hipóstase mais atrapalharia do que ajudaria e provocaria tremenda generalização que seria absurdo culpar toda uma rede de fast food por um acontecimento pontual em uma das franquias.
O mesmo podemos aplicar em qualquer outro conceito, como por exemplo: o capitalismo. O que é o capitalismo? Mais um sistema hipostático vazio de significado se não for incluído aí o ser humano, ou melhor, os seres humanos que o integram. A acusação de quem culpa o sistema capitalista consiste em se colocar de fora dele, como se esses não agissem como este 'malvado' age.
Entretanto, o sistema capitalista é uma extensão da sociedade mundial (excetuando algumas sociedades que vivem de outra forma e não estão englobadas diretamente nele) e estamos incluidos nele. Quando culpamos o capitalismo, culpamos a nós mesmos e não somente aos donos do capital. Se os donos do capital existem, isso ocorre pela ganância humana que é um produto evolutivo dos tempos primitivos dos hominídeos que foram moldados em seus instintos para acumular todos os recursos caso viessem os tempos de seca. Entretanto, evoluímos socialmente e civilizacionalmente, mas nossos instintos ainda são daquela época. E a agressividade, as guerras, a desigualdade e a ganância são uma consequência desses instintos ainda presentes no homem atual. Antes do capitalismo a desigualdade existia na idade medieval e na antiguidade. O capitalismo, dessa forma, não é o grande vilão da humanidade. A hipostatização que fazemos através do capitalismo é uma fuga para que não culpemos a nós mesmos pelo caos em que a humanidade vive, sendo esta a nossa covardia. E o moralismo à esquerda tem sido cego e alienado ao se colocar como o redentor da humanidade que está fora das maldades do sistema, como se não fosse também do sistema e não sofresse da dualidade em ser o opressor e o oprimido. Eis aí uma grande contradição: se ver como redentor ao invés de agressor; vítima ao invés de algoz.
E os que desejam o fim do capitalismo provavelmente não estão preparados para a nova configuração que irá surgir depois dele. Ninguém estará preparado para dizer adeus ao que conquistamos em níveis tecnológicos, sociais e culturais. A frase popular "Você não sabe o que está pedindo..." é a mais adequada nesse contexto dos que querem destruir o sistema ao invés de reformá-lo.
-Gabriel Meiller
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