"Estou encantado com isto" Estou sob o encanto disto! Encantar vem do latim incantare, isto é, in-cantare, alguém que sofreu de um canto sobre si, que é a prática do encantamento. O encantamente provavelmente tem origem na percepção do poder da palavra, visto que nas mitologias o mundo é criado pela palavra dos deuses.
"Preciso me animar"
Preciso colocar alma, ar, sopro... em mim.
Do latim Anima que significa alma, sopro, brisa.
As palavras... Ah, as palavras! Elas carregam mais de mil gerações em si mesmas, são rastros de mentalidade. As palavras são um conjunto de signos interdependentes entre si que revelam o inconsciente da atual humanidade. Esse inconsciente linguístico é prova das nossas crenças e da evolução de nossa consciência (evolução apenas como mudança de forma).
Não percebem? Somos determinados e estamos presos na linguagem; não podemos ir além dela e filosofar nos limites da linguagem e tentar reconstruí-la. Caso consigamos, isto significa tentar alargar nossa percepção e descrição do mundo. Como disse o Terror dos metafísicos: "Temo não nos desvencilharmos de Deus enquanto continuarmos a acreditar na gramática." O precioso filólogo que enxergou na linguagem verbal e escrita os rastros do instinto de teólogo, da visão essencialista que concebe o eu como ente autônomo das demais faculdades, fez uma constatação impetuosa e típica de filólogo, de todo linguista, aliás. A constatação do quanro somos falados pela lingua e pensados por ela e pelos mitos!
Se o conceito de "unidade" de origem metafísica e pré-filosófica contaminou a filosofia, nos confundimos ao achar que podemos obter o conhecimento da verdade. Pois a verdade deriva da falsa noção de unidade, que deriva de Deus como Essência. Muito mais de XXI séculos, senhores, e ainda cultuamos a deus e à metafísica inconscientemente, por meio da indução ao engano da verdade como unidade!
Conserva a vontade de verdade... e verás a tragédia epistemológica, a enganação e o erro cartesiano. Novamente: "Temo não nos desvencilharmos de Deus enquanto continuarmos a acreditar na gramática."
Temo não ser compreendido, e não serei; mas como disse o Nazareno em suas fábulas: "Não dêem aos cães o que é santo, nem atireis vossas pérolas aos porcos!" Então tampouco disperdiçarei meu tempo com estes que ainda são fiéis à gramática e a utilizam para normativizar o pensamento.
-Gabriel Meiller