domingo, 2 de junho de 2024

A fraqueza do homem e Deus como seu sintoma

 

O que é Deus? Essa pergunta não tem resposta certa e absoluta; então a resposta mais adequada deveria ser: não se sabe.  Mas como todos gostam de cultivar a sua verdade e brincar de desvendar o cosmos, posso me arrogar a trazer pareceres lógicos com base nas ciências e na filosofia: Deus é a necessidade e o sintoma que vem da fraqueza humana. 


O apóstolo Paulo trouxe a máxima que supostamente ouviu de Deus: "Minha graça é suficiente para você, pois meu poder se aperfeiçoa na fraqueza." 


"Fraqueza" é a palavra adequada, senhoras e senhores. É pelo medo da morte, de tomar decisões e criar novos valores que o homem é fraco. A fraqueza impele-o para o niilismo cristão. O que é niilismo? É o desamor à vida, o desprezo a ela em várias instâncias.  E o niilismo cristão nasce justamente dessa fraqueza: o medo de viver e de aceitar o mundo como ele é: finito e temporário. É nessa fraqueza que o poder de Deus (ou deuses) se fortalece e o ser humano monta a sua fábrica de ídolos monoteístas e politeístas por meio das religiões. 


O que o cristianismo, ou melhor, o niilismo cristão prega? Que essa vida é transitória e inferior à vida vindoura: 


 "Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam"; disse a Escritura. 


O que é esta vida perto da vida que virá e que é eterna? Nada. O que é este corpo finito perto do corpo "glorioso" e eterno que virá? Nada. E então o cristianismo incrementou esse niilismo com o platonismo que também prega que esse mundo dos sentidos em que estamos é imperfeito e que o mundo inteligível, o mundo das ideias (para o cristianismo, o mundo espiritual) é o mundo que mais importa. 


O cristianismo assaltou o platonismo e o plagiou de forma cruel para se sofisticar cada vez mais. E se o mundo posterior é o mais importante... essa vida aqui não merece tanta atenção e os instintos, as obras da carne, devem ser renunciadas. A vida é levada em banho maria em prol de um futuro incerto. Há um cheiro bem específico aqui: o medo de viver e de escolher por si mesmo! 


Mas para o homem forte, aquele que escolhe por si e cria seus próprios valores, Deus pode ser qualquer coisa, inclusive: nada! Que sejamos fortes para que em nós Deus e seus representantes não nos assaltem em nada, principalmente no amor à vida e na possibilidade de montarmos os nossos próprios valores. Sejam eles "bons", sejam "ruins". 


Sem mais: carrego em mim as marcas de Cristo; e essas marcas são inúteis e desnecessárias. Que os fiscais de Deus carreguem como camelos as normas do livro sagrado, mas não se oponham aos que preferem ser livres, verdadeiramente livres do peso do niilismo cristão em um Estado despretensiosamente laico.


-Gabriel Meiller

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