sexta-feira, 14 de junho de 2024

A política da fé dos melhoradores da humanidade

 

Se existe algo que move a humanidade, inclusive para o inferno existencial, é a esperança! A esperança pode se tornar obstinada em qualquer direção e disposta a qualquer atitude: as mais automartirizantes e sacrificiais, tanto quanto as atitudes horripilantes e de genocídio. Certamente Hitler se via como melhorador da humanidade, assim como Mahatma Gandhi. "Desconfie dos melhoradores da humanidade" adverte a razão e os próprios instintos, "pois eles sabem que quem muito quer vender seu peixe, sabe que ele está para vencer e estragar a qualquer momento."


O que dizer da política? Ela é um veículo de poder para que o homem mude a realidade da comunidade ao seu redor. A política é a administração da pólis, isto é, das cidades e países em geral. Entretanto, a política também é um caminho subterrâneo para a administração e usufruto das benesses do poder em proveito pessoal. O homem é seduzido pelo poder que a política lhe oferece, concedendo-lhe: influência, dinheiro e prestígio perante a sociedade. 


Os melhoradores da humanidade podem muito bem desejar e ter desejado um dia a mudança da humanidade, ou pelo menos de parte da sociedade; mas não se enganem, senhores: a ingenuidade é a barra de ignição para o bem, mas a sedução do poder altera o estado mental humano até o ponto em que a utopia e o desejo de mudar a sociedade se torna um pálido reflexo da ingenuidade sadia do cidadão que um dia assumiu o poder. Querem exemplos, ainda? Napoleão, Stalin, Lênin, Hitler, Mussolini;  Getúlio Vargas, Lula, Fernando Henrique Cardoso (o sociólogo acadêmico que no poder praticou tudo diferente do que escrevia), Collor,  e o seu Edmilson que era pobre, ferrado e abriu uma empresa e agora quer distância do populacho e vive em uma casa financiada na parte nobre da cidade. A corrupção, ao contrário de Edmilson, não faz acepção de classes sociais e é por esse motivo que o anarquismo criticou a ditadura do proletariado e a transição do Estado proletário para uma sociedade sem classes: ela não funcionaria e... se funcionasse algum dia, no dia seguinte ou, no mais tardar, na semana que vem... o mundo estaria hierarquizado novamente! 


Quem representa a política da fé? Óbviamente quem se interessa em fazer revoluções e mudar o status quo em que os donos do poder tanto se agradam. Mas a política da fé peca! Não por sua intenção, mas por sua ilusão e ingenuidade em seus métodos. Karl Marx analisou de forma magistral toda a opressão que o ser humano cometia por meio das engrenagens capitalistas, isso é verdade! Entretanto, o erro marxiano e dos marxistas se baseia na crença de que a humanidade pode se redimir e caminhar para a abolição da luta de classes e do Estado. Ah... doce e amarga ilusão para os que se desenlaçam dessa semirreligião marxista! Sim, nas ciências da religião o marxismo possui traços em comum com as religiões e por isso, junto com outras ideologias, ele se enquadra na definição de semirreligião. 


Além desse erro de supervalorização na razão humana como capaz de redimir o homem e domar seus instintos predatórios de acumulação e luta contra o outro, o marxismo cai no erro que Nietzsche tanto criticava, não somente nas ideologias de esquerda, mas na filosofia de sua época: a metafísica presente nas ciências e na filosofia. A metafísica compartilha o pressuposto de que o mundo é consequência de um plano perfeito,  imutável e de que essências fixas desse mundo existem em nosso plano. O conceito de alma e a noção de um Eu fixo que comanda todas as nossas funções e nosso corpo é uma consequência da metafísica de forma geral. O marxismo, decorrente de influências hegelianas não escapa desse fatalismo que abateu a filosofia. O crente no materialismo histórico e dialético compartilha o pressuposto do paraíso na Terra. O marxismo enxotou o conceito de deus e ficou com as consequências lógicas dele: a justiça, paz e harmonia que seriam da "era vindoura" que o cristianismo tanto pregava.  "Um ateísmo cristão?" Se espanta quem cava a fundo e observa atentamente as movimentações conceituais marxistas. São ateus cristãos sem deus, devotos do espírito do cristianismo primitivo sem a referência metafísica dos ídolos do cristianismo.  Revolucionários do "Cntrl C, Cntrl V" que se entusiasmaram pelo culto à igualdade por meio da ditadura do proletariado. 


Quando falamos sobre luta de classes, o congelamento entre "opressor" e "oprimido" é mais um sinal de uma metafísica viva e operante no materialismo dialético e no marxismo. Os seus devotos operam como apóstolos da luta contra a opressão, reivindicadores e profetas da igualdade. Pois bem, senhores: vossa causa é justa, mas não atropelem os próprios cavalos que carregam vossa carroça. 


Resumindo tudo em uma premissa ceticista: a realidade sempre estará quilômetros à frente da razão humana e de qualquer tentativa do homem em controlá-la e entendê-la de forma integral. O progresso e a mudança possuem limites... mesmo que não saibamos ao certo quais são esses limites. 


-Gabriel Meiller

Nenhum comentário:

Postar um comentário