domingo, 30 de dezembro de 2018

O Infernoso Conceito de Inferno


       
De um casal lindo com palavras afáveis e posturas cordiais à determinada mulher, levando lapadas na cara de seu marido revoltado
De amigos que se amavam e se humanizavam em grandes conversas e repletos momentos à brigas com assassinatos orais e chuvas de palavras afiadas.
De uma linda filha que despertava sorrisos no pai ao acabar de nascer,  à morte violenta daquele sádico estuprador que não poupou sua própria filha.
De um homem que antes sorria pela vida e pelo ser humano a um deplorável fiel relogioso que reprime os que pensam diferente e agora os condena ao inferno, de acordo com seu fundamentalismo religioso...
"O inferno são os outros!", Exclamou Sartre.
  O conceito de inferno da religião cristã, influenciado também pela cultura grega, idealizando um deus sádico que faz churrasquinhos de pessoas que não se comportaram de determinada orientação religiosa, é que é um tremendo inferno! E Sartre, procurando a libertação de dogmas e ideias que retiravam a responsabilidade e liberdade do ser humano, define o que é inferno: são os outros. Nada causa mais sofrimento do que as ações do próprio ser humano contra ele mesmo; o estado de espírito infernoso das situações descritas anteriormente, são responsabilidade daqueles que a praticaram!
George Orwell disse: "A humanidade precisa se libertar do conceito de Deus e Diabo e admitir que ela mesma faz o bem e o mal." Pois para ele e para Sartre, jogar a culpa de nossas mazelas em Deus ou o Diabo, ou em teceiros e quartos, é sinal de fraqueza e desonestidade de espírito. Bem como nos auto-sabotar através de racionalizações e negações de comportamentos e ações que sabemos serem nossa responsabilidade. E nós somos parte "dos outros" na visão daquele que nos olha do lugar em que está, por isso essa frase faz de nós verdadeiros possíveis diabos na vida alheia.
   Mas para você, caro amigo(a), que ainda acredita que haverá um inferno posterior que queima pessoas como churrasquinhos eternamente e que acredita em um deus desta extirpe, desejo-lhe coragem para viver. Pois numa mais simples lógica este pensamento infernoso é desmontado. A lógica de que: se existe um Deus que se afirma bom e existem seres humanos que são taxados como "naturalmente maus" e estes seres humanos que são "maus", conseguem elaborar um sistema prisional-punitivo que ao invés de queimar pessoas por seus crimes ou deixá-las trancafiadas sem assistência social, tentam reabilitá-lo para viver na sociedade (não incluo o sistema carcerário do Brasil nisto), que dirá Deus que é considerado "bom" e "superior à mentalidade humana", considerada má. Mas o religioso tolo dirá: "Você não pode entender a Deus e sua soberania; ele é soberano e faz o que quer!"
Esta mentalidade vem de longa data, sendo consequência de conceitos escolásticos que influenciaram o cristianismo medieval e sobreviveram à reforma protestante e que retratam um deus sádico, caprichoso, mimado, fazendo sua própria vontade sem se importar com o resto do seres humanos e outras formas de vida. Não importa o que o indivíduo faça e como utiliza sua liberdade, pois no final, ele está condenado a um lugar para ser atormentado para todo o sempre... muahahahaha.
São conceitos fatalistas gregos, antes de tudo (e não somente gregos); retratando uma divindade  antropomorfizada (dotada de traços humanos) de ira, raiva, etc... assim como o inferno possui conceitos terrestres, como "lugares e elementos" (como por exemplo o fogo) que são aplicados em outra dimensão, jamais conhecida pelos vivos. E assim vemos como o inferno cristão é influenciado, em grande parte, pela mitologia dos gregos e pela lógica da antiguidade repleta de mitos e analogias de seu tempo, tentando retratar um plano inacessível para todos os vivos (ou seja, o famoso inferno cristão).
#Prosador
Segue o vídeo do Slow sobre o inferno grego:
<https://youtu.be/KIDYlkndNMA>
Acesso: dez, 2018.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

"O que é? Nunca viram um hipócrita antes?



   Hipócrita! Palavra inspirada na Grécia antiga para descrever os atores que usavam diferentes máscaras, portando diferentes expressões em uma cena. O hipócrita teatral foi incorporado no nosso vocabulário, expressando a pessoa que pode ter mais de duas faces, mentirosa conscientemente, contradizente (falando uma coisa e fazendo outra, totalmente oposta). Odiar um hipócrita é fácil, conviver com ele... é mais fácil ainda! Pois todos somos hipócritas e reconhecemos a hipocrisia mútua quando nos convém reconhecer, e quando elas são semelhantes e correspondentes.
Somos cegos para enxergar nossas contradições;  e quem quer amar um hipócrita heterogêneo da nossa hipocrisia? Nem pensar! É uma puta tarefa dificílima, pois não conseguimos nos amar em hipocrisia, que dirá o outro. Ficamos estapafúrdios com a hipocrisia alheia; em um belo dia, eu estava assistindo The Big Bang Theory (uma série famosa da Warner) em que Leonard estava em um episódio numa mesa de um refeitório, conversando com Sheldon e Howard. Leonard viu um famoso físico passar no refeitório e falou invejosamente mal dele; enquanto isto, este físico veio em sua direção pedir para trabalhar com Leonard em um projeto, e rapidamente, Leonard mudou de humor e o elogiou, sentindo-se honrado. Após o físico sair de cena e Leonard olhar a cara de espanto e sarcasmo de seus companheiros, que notaram a hipocrisia e bipolaridade do invejoso, Leonard rebate meio constrangido: "O que é? Nunca viram um hipócrita antes?"
  Esta ironia e sarcasmo retribuido, com a qual Leonard responde o espanto alheio à sua hipocrisia, representa uma faceta humana aprendida em nós, desde que vivemos em sociedade.  E não é algo comum o fato das pessoas se acostumarem com a hipocrisia, pois não admitem a sua própria; mas deveria ser comum. Pois todos somos hipócritas (variando apenas a intensidade), assim como todos nós somos (ou quase todos) seres amáveis, cordiais, solidários, irados,  críticos, mesquinhos, idólatras, caluniadores, simpáticos, falsos, etc.  Porém, admitir a hipocrisia de forma aberta é considerado um atestado, para muitos, de sincericídio. De carta branca para não sermos confiáveis pelo meio social, pois desistimos de nos auto-sabotar com negações desta verdade simples, mas complexa de admitir.  
#Prosador

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

O Tempo, de Drummond


Em época de fim de ano, vale a pena refletir no poema de Drummond e o milagre das tradições huamanas para gerenciar nossa esperança:



“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um individuo genial.
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante tudo vai ser diferente.
Para você, desejo o sonho realizado,
o amor esperado,
a esperança renovada.
Para você, desejo todas as cores desta vida,
todas as alegrias que puder sorrir,
todas as músicas que puder emocionar.
Para você, neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família seja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas…
Mas nada seria suficiente…
Então desejo apenas que você tenha muitos desejos,
desejos grandes.
E que eles possam mover você a cada minuto
ao rumo da sua felicidade.”
(Carlos Drummond de Andrade)
#Prosador

O que é o pecado, segundo a... Pitty?






Muitos estão familiarizados com o termo pecado, pelo fato de sermos parte de uma cultura judaico-cristã.  Para os religiosos cristãos, muitas coisas podem ser pecado, se não estiverem de acordo com a visão que eles possuem da Bíblia. Em resumo, para eles, sexo antes do casamento, fumar, beber e não dizimar... são os pecados mais focados. A repressão sexual nunca foi tão maléfica quanto é neste meio, sendo um tiro que os cristãos dão no próprio pé, pois a repressão gera mais vontade de extravasamento e uma intensificação grande no apetite sexual da pessoa reprimida. Mas agora não é a hora de criticar construtivamente os cristãos, mas pretendo falar sobre um conceito mais realista sobre o que seria o famoso pecado, e usarei um trecho da cantora Pitty para isso.
Na música chamada "Na sua estante" , ela começa dizendo: "Te vejo errando e isso não é pecado, exceto quando faz outra pessoa sangrar". Neste trecho, fica evidente uma simplicidade e resumo perfeito do que é o pecado: algo que fazemos que faz outra pessoa sangrar. O erro não é o mesmo que pecado; erros são naturais e necessários para nosso aprendizado como pessoas. Mas quando erramos e fazemos outros ou nós mesmos sangrarmos, isto é pecado. Uma agressão ao nosso semelhante, não somente de forma física, mas psicológica e emocional. Os nossos semelhantes não são somentes os sapiens, mas todos os seres vivos, de modo que alteremos a realidade deles. Então qual o problema do sexo com alguém que amamos, ou uma diversão com aquele(a) garoto(a) em um fim de semana? Ou em falarmos palavrões (sem ofender ninguém) e vivermos estilos de vida  alternativos do povo de terno, gravata e livro na mão? Nenhum! Pois pecado é uma lei básica que não segue padrões, a não ser o da mutualidade em que eu faço ao outro o que eu gostaria que fizessem a mim, como disse aquele a quem os cristãos dizem seguir.
  Além disto, o pecado é um nome que denomina tudo o que o ser humano, ao olhar para si e para o mundo, vê de ruim e destrutivo. Pecado não é algo que tem vida própria, mas um termo que os hebreus e cristãos descreveram sobre algo objetivo: o que os destruíam e o que destrói os seres humanos. Errar é poder prejudicar a outros, mas não é algo intencional e constante, mas o pecado é algo consciente e um hábito; o hábito de destruir seres humanos e seres vivos. "Vá e não peques mais" é um convite para mudarmos hábitos que destroem os outros e também nos destrói. Acima de tudo, o pecado é um conceito que usamos muito mais para nós, e menos para apontar para outros.
#Prosador

sábado, 22 de dezembro de 2018

O que é liberdade segundo a biologia/psicologia evolutiva?





   A liberdade é um conceito muito proclamado na história humana. Ela estava na boca dos revolucionários franceses que gritavam: "Liberdade, igualdade e fraternidade", sendo a primeira palavra deste famoso lema. A filosofia também faz suas inesgotáveis considerações sobre este conceito. Porém, a minha abordagem circundará  o âmbito biológico e suas considerações sobre a liberdade. Baseado no livro "Sapiens- Uma Breve história da Humanidade" (link no final do texto) do historiador Yuval Noah Harari, que aborda a evolução da perspectiva biológica e macro-histórica, eu consegui compreender um vislumbre sobre o que seria a tal liberdade. 
  E o que é a liberdade? A grosso modo, a liberdade seria uma invenção humana, adquirida a partir de um momento da pré-história em que o homem desenvolveu, na chamada Revolução Cognitiva, a capacidade de fazer abstrações e invenções de coisas que não existem, como exemplifica o autor no livro, mencionando o conceito de deuses, fadas, duendes, homens leões e todo tipo de seres misticos. (Sim, ele se diz ateu; não entrarei nessa discussão agora). Desta forma, o conceito de liberdade, também surgiu tempos depois, em que o ser humano acreditava ser livre, principalmente depois do renascimento e humanismo, em que o homem começou a se ver como centro de todas as coisas.
Mas como a biologia evolutiva invalida a liberdade, além de falar dessa invenção humana causada pela Revolução Cognitiva? Bem... ela aponta nossos condicionamentos físicos, químicos, psicológicos e existenciais que nos impedem de exercer a chamada liberdade. Por exemplo: Podemos voar sem qualquer ajuda de aviões? Não! A evolução não nos tornou capazes disso, mas nos tornou capazes de construir mecanismos sofisticados para voarmos de outra forma. Podemos viver para sempre? Por mais que quiséssemos, estamos debaixo de uma lei da natureza em que nosso organismo se decompõem e cessa de existir algum dia. Quando fazemos uma escolha sobre a nossa comida favorita, porque nós a escolhemos? Quais fatores influenciaram essa escolha?
Freud nos mostrou que somos regidos, não somente pelo nosso organismo acostumado com processos evolutivos que nos limitam em nossas escolhas, mas também pelo inconsciente. O inconsciente, a grosso modo, é a parte obscura de nosso ser em que armazenamos todas as nossas experiências de vida e traumas, que influenciam as nossas escolhas diárias. Por exemplo: Se um indivíduo foi criado em um ambiente em que o rosa foi associado a ele como uma cor feminina e em que o seu pai o criou para ser bruto e não cultivar sentimentos de sensibilidade e empatia pelos outros, dizendo que são coisas de mulher, pode ser que (probabilidades) este indivíduo desenvolva certa resistência contra o rosa, esportes considerados femininos, sentimentos "de mulher" como medo, tristeza, simpatia, o ato de se mostrar vulnerável, etc. Ou pode ser que ele faça o oposto, justamente para se reafirmar em cima de seu pai e quebrar paradigmas que foram impostos a ele quando criança.
E o que isso tem a ver? Tudo! Afinal, as escolhas desse menino se basearam em condicionamentos psicológicos e possíveis traumas psíquicos; será que sua escolha era livre de forma total? Desta forma, o olhar da biologia é de que a rede do Mac Donald's e grandes empresas, não existem literalmente, mas são invenções da nossa cabeça, assim como o que nós chamamos de liberdade. O que existem são os concretos do edifício e funcionários que fazem e representam aquelas empresas, mas não o Mac Donald's em si.
Então a liberdade não existe? Depende de como desejamos encarar isto. O que é existir? Algo físico e material simplesmente, ou melhor, o que são relidades? Talvez a liberdade seja a denominação de atitudes que tomamos que são influênciadas por outros fatores, mas que nos agradam, no final, mesmo sendo condicionada. Uma espécie de paradoxo que não é contrariado, mesmo com condicionantes biológicos, químicos e históricos.
Liberdade então é algo subjetivo? Sim, no meu ver ela é isto: um produto da nossa capacidade de imaginar e nomear fatos e sensações que sentimos, pois se ela me orienta a fazer escolhas e a viver (mesmo eu sabendo que também sou condicionado pela biologia)  ela passa a ser algo real, pois virou uma realidade em minha vida, a partir do momento que me orientou a viver e trouxe objetividade, mesmo que não seja algo palpável e material. Mas, sob um consenso científico, já não tenho capacidade para definir o que ela é ou deixa de ser.
#Prosador
Link do Livro:
<http://lelivros.love/book/baixar-livro-sapiens-uma-breve-historia-da-humanidade-yuval-noah-harari-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/>
Acesso: Dez, 2018.

domingo, 16 de dezembro de 2018

O Caso João de Deus e o que ele simboliza na nossa sociedade



  O caso recentemente muito divulgado sobre o médium e líder espírita chamado João de Deus, nos desperta como sociedade e traz à tona algumas questões discutidas a muito tempo. Como por exemplo, o uso da fé com fins lucrativos, estelionato e charlatanismo. Mas, agora, quero falar sobre dois assuntos mais importantes ao meu ver: os efeitos do poder na mente humana; e o machismo atuante na sociedade patriarcal judaico-cristã brasileira. 

    Na reportagem do Fantástico, do dia 16/12/18, disponível no Youtube (no link que deixarei no final do texto) e em outros vídeos que abordam sobre o estuprador e assediador João de Deus, as menções de muitas denúncias são uma realidade; mas também há casos em que, por exemplo, uma denunciante chamada Camila, que tinha apenas 16 anos na época, foi assediada pelo médium. E quando, após a denúncia, houve o julgamento do caso, João de Deus foi inocentado pela juíza que o julgou.

  Uma outra denúncia feita em 1980, de uma jovem de também 16 anos na época, não foi levada a diante (não se sabe exatamente o por quê disto). Porém, o que foi explicitado nos vídeos ficou muito claro: Abadiânia, no estado de Goiás, cidade em que vivia João de Deus, era dependente de sua fama internacional. Os comércios, os empregos e instalações que giravam em torno da cidade, eram sustentados pela fama de João de Deus e sua instituição espírita. Sua influência na cidade era muito clara e nem o prefeito tinha tanta influência e poder de decisões como tinha o líder carismático. Além de sua filha mais velha ter denunciado João de Deus por estupro, até o momento as denúncias estão em torno de mais de trezentas mulheres. E como, antes desta divulgação, poderiam haver denúncias na cidade em que o comércio e tudo girava em torno deste homem? Iriam as autoridades denunciá-lo naquele momento e acabar com a prosperidade local? Jamé!

  Este caso nos relembra que a voz da mulher sempre foi, de maneira geral, relativizada em nossa sociedade; em que vítimas cotidianas de abuso relatam que o delegado tentou convencê-las a não prestar queixas, acreditando, em uma lógica machista, de que o fato da mulher ter usado roupas curtas e dado atenção, era porque queria sexo e ser estuprada. A lógica da demonização da mulher como aquela que seduz o homem e o engana, vem desde o relato dos judeus em Gênesis: em que Eva engana Adão e o seduz a comer do fruto. Presente também na mitologia grega, na Caixa de Pandora, que foi a primeira mulher criada por Zeus em que ela abre a caixa (na verdade era um jarro) que libera todos os males do mundo. Ou seja, os gregos e os hebreus culpabilizam a mulher em seus mitos por toda desgraça no mundo; trágico paradoxo contradizente.

  Enfim, sendo breve, eu afirmo que a nossa sociedade ainda é machista e que o próprio machismo é enraizado na mentalidade de alguma porcentagem de mulheres que se enxergam como um objeto de domínio e também se utilizam dessa posição para conseguir privilégios dos homens. Embora existam as que lutem pela causa de seus direitos e não se curvam a este domínio cultural androgênico (o homem como base nas designações de termos e conceitos, por exemplo: "o homem" como representação da humanidade, da raça humana).

  Outra questão prometida ao começo do texto, refere-se aos sintomas do poder na mente humana; o fato de alguém ter muito poder, admiração e prestígio para si, significa uma sensação esmagadora (na maioria dos casos) desta pessoa estar acima da lei, da ética e da moral, sentindo-se mais à vontade para fazer o que bem deseja, mas que antes não podia, pois era reprimida no cotidiano, devido a sua posição que antes era comum na sociedade. O poder também, segundo um artigo publicado no site Época Negócios (link no final do texto), fala sobre como este poder desmedido afeta as estruturas neurológicas do cérebro, em que a: "...pesquisa semelhante, da Universidade McMaster, em Ontário, Canadá, confirmou essa conclusão: ao analisar tomografias cerebrais de participantes, constatou que aqueles com maior sensação de poder bloqueavam um processo neural específico, impedindo a manifestação de empatia."

   Certamente João de Deus, por estes e/ou outros fatores, como sua grande influência internacional e local, se sentiu à vontade para, em uma cultura machista que relativiza a voz da mulher, usar o seu poder e influência para aliciar, assediar e estuprar suas vítimas em prol de uma suposta cura espiritual, usando também a religião como mais um meio de domínio sobre suas vítimas.
#Prosador
Links:
"JOÃO DE DEUS NO FANTASTICO":
<https://youtu.be/Y6yRm6oIGKc>
Acesso em: 17/dez/2018.
"Como o poder afeta nosso cérebro":
<https://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2017/11/como-o-poder-afeta-nosso-cerebro.html>
Acesso em: 17/dez/2018.
"Caixa de Pandora":
<https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Caixa_de_Pandora>
Acesso em: 17/dez/2018.
Imagem disponível em:
<https://www.google.com/amp/s/veja.abril.com.br/brasil/delegado-diz-que-padrao-de-denuncias-motivou-prisao-de-joao-de-deus/amp/>
Acesso: 17/dez/2018.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

A mais longa viagem de todas


         

Viajei para tantos lugares...
Cansei de dar voltas ao mundo
Mesmo não saindo de casa,
Eu conheci o mundo, ou melhor,
Os vários mundos; mundos paralelos
Transportei-me ao passado,
Sentei e conversei com Sócrates;
Tomei chá da tarde com T. de Aquino;
Vi a queda da bastilha de perto;
Fiquei bestializado com Hitler.
Eu viajo entre mundos da ficção;
Choro ao entrar em muitos romances,
Me teletransporto em muitas leituras,
Falo com os mortos pelos seus livros
Há melhor maneira de viajar com a alma, de velejar sem sair de casa?
Ler nos transporta de nossos corpos
Compostos de carbono e água.
#Prosador

domingo, 25 de novembro de 2018

A burrice inteligente e a inteligente burrice



 Quando pisamos neste mundo não sabemos de nada literalmente. E temos que aprender tudo. Desde os primeiros passos e sílabas, até as questões mais complexas, como por exemplo: como sobreviver neste mundo cheio de injustiças e fatalidades do destino. Porém, nesta odisséia, ou seja, nesta longa aventura de aprendermos a viver... por meio de experiências, viagens, faculdades, estudos, e tudo o que nos leva a uma melhor compreensão da realidade. Neste processo, existe o que defino serem dois perfis de pessoas: as que cultivam a famosa burrice inteligente e as que cultivam a inteligente burrice. Afinal, o que são estes dois perfis? A burrice inteligente é o que chamo de perfis de pessoas que acham que sabem muito da realidade. Por isso cultivam uma burrice que se supõe inteligente. Afinal, se elas descobrem e questionam pouco sobre a realidade da existência, o mundo será muito elementar e simples para estas.

 Porém, o outro perfil oposto a este, ou seja, os  da inteligente burrice, são aqueles que reconhecem sua burrice acerca da existência e que sabem muito pouco acerca dela. Estes fenômenos ocorrem como paradoxos; quanto mais um inteligente burro estuda, mais ele reconhece o quanto a vida é complexa demais para ele fazer afirmações decisivas e absolutas. E quanto menos uma pessoa estuda, mais ela se torna "inteligente" aos seus olhos, por achar que a vida é simples e que ela sabe muito ou rasoavelmente sobre a vida.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Vivendo Apesar do Absurdo


           
   Quando o ser humano caminha com os pés no macabro chão da existência, sem calçados e óculos escuros para camuflar o sol abrasador da realidade humana, este homem se depara com o Absurdo!

  Peregrinar sem rumo definido debaixo do cinzento sol infernoso da existência, nos dias de verão, demanda energias e exige constantes esforços de constatar o Absurdo. Pessoas morrem, filhos são abortados antes de abrirem os olhos dentro do útero de suas mães; assaltos acontecem; guerras banham o mundo de sangue; todos são esquecidos depois de algum dia; a vida se acaba, quer repentina ou gradualmente; conhecer a verdade nua e crua e não poder fazer nada para mudá-la... enlouquece os mais esperançosos. 

 Por isso poucos são os que vão até o fim para se deixarem serem penetrados pela absurdidade da contradição de existirem neste mundo. Ah... já dizia um vulto em um livro histórico polêmico, quer para o bem e para o mal: "Eu, o mestre, fui rei de Israel em Jerusalém. Dediquei-me a investigar e a usar a sabedoria para explorar tudo que é feito debaixo do céu. Que fardo pesado Deus pôs sobre os homens!"
  
 Fardo pesado (uma proposital redundância, assim como descer para baixo) é o que define bem o que passa o ser humano. Boquiaberto ao contemplar a carrasca existência, absorto no inexplicável, no impronunciável... ele só sente! O Real toma conta do verme que vive debaixo do céu; ele não tem condições de reunir forças para expressar o que sente no campo simbólico das palavras, e possui dificuldades de montar um quadro no seu imaginário humano (mente); Lacan que o diga, pois terminologizou estes conceitos e os definiu. Quanto mais se aceita e explora a existência, mais falta de sentido se tem em viver.
" 'Que grande inutilidade!', diz o mestre.      Que grande inutilidade! Nada faz sentido'". Por isso somos, nossa geração pós revolução industrial, pós revolução científica, e vivente da globalização e de informações disponíveis numa enorme rede epistêmica chamada Google; somos a geração que mais contempla o absurdo de forma teórica e mais uma que contempla de forma prática.
  
  Acumulamos os absurdos passados através da bagagem existencial que todos os ancestrais sapiens e homos nos transmitiram (seja pelo inconsciente coletivo ou pelas heranças culturais, etc) e por isso explodimos nossos neurônios com uma pistola, pulamos de prédios e cortamos nossos pulsos de forma frenética.

 A realidade vociferou alto em nossa cara e nos tratou com escárnio. A depressão nos consumiu e o tédio existencial corroborou, juntamente com a falta de sentido, que nos sussurra todos os dias sobre como a Realidade é. Desejo a pacificação pela ignorância aos que querem pisar neste solo da existência e não estarrecerem-se abismados com o cenário que o sapiens encarou desde o seu jardim de infância.
Desejo que a maioria não entenda o que escrevi; benditos são estes! Santa ignorância! Ah... ela me rejeitou, e virei o verme consciente que sou do meu estado; um sopro, apenas, e sou levado no cósmico estalar de dedos.
#Prosador

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Choque de Realidade(s)


Sinta essa dor sinistra, incômodo constante; perguntas que não possuem  absolutização.
Contemple todo este mundo,
A realidade viva, sem resposta e repleta de aflição!
Respostas, trazem mais perguntas,
as dúvidas suscitam angústias e você descobre que não existe uma salvação.
A Realidade, sendo A Verdade,
Torna-se impossível de se digerir
Os homens, criaram a cultura, grande
suavizadora e redentora... trazendo alguma salvação!
A esperança foi fabricada, gerada da genialidade humana de se fazer abstração.
Quer a verdade? A realidade é fria; cruel, esmagadora e serial killer de esperanças. Já dizia Ernest Becker:
"O mundo real é simplesmente terrível de se admitir. Ele diz ao homem que ele é um pequeno animal trêmulo que um dia decairá e morrerá."
Mas então, reconhece o poder do mito, da invenção da realidade e da esperança: "A cultura muda tudo isso; ela faz o homem parecer importante; vital para o universo, imortal em alguns aspectos."
#Prosador

Religião: Ópio do Povo


                
O ópio do povo; quem não sua sofreu seu estigma e seu flagelo? Sua degradação e perdição eterna? A religião também destrói lares, arruina famílias e radicaliza pessoas, estuprando consciências. Umas mais, outras menos; muitos perderam sua fé por causa da religião. Paradoxal? Não! Religião nunca foi a fonte da fé, mas a deturpação dela. Muitos se declararam ateus por desacreditarem em um deus distorcido e anunciado por ela, sem saberem que não era Deus. Outros se atormentaram em suas almas e ainda se atormentam por verem Deus como o tirano que jogará mais da metade da humanidade em uma concepção de inferno e que poupará somente os virtuosos que aceitaram o verdadeiro deus e que viveram segundo as regras mágicas de seu livro. Abobalharam-se e condicionaram a consciência em um único livro; mas pegaram as partes piores deste livro, usando-as para justificar o ódio, a "justiça" e para validarem suas arrogâncias. O que posso dizer destes? São vítimas da religião tanto quantos os que são de outras fontes de destruição multifacetada da humanidade. As vítimas também são agressoras, com consciência ou não; pior quando possuem consciência.  São verdadeiros filhos do inferno aqueles que pregam com prazer o conceito do inferno cristão; eterno (duração infinita), seletivo, torturador, um lago de fogo que faz churrasquinhos anímicos, etc. Que terror! Que base e direito tenho para falar isto? Todos!  Fui inserido neste meio quando estava na barriga de minha mãe e sai dele com 19 (ideologicamente) e com 20 físicamente. Peço ao próprio Jesus, a que estes pregam, a misericórdia para com todos nós; mas especialmente para com eles... infernosos que se endiabraram com o ópio do povo e que precisam de uma reabilitação existencial contra esta droga pseudo espiritual. Prego contra todos de uma instituição? Jamais. Mas falo contra todos que são vítimas dela, estes são muitos, em maior ou menor grau.
#Prosador


domingo, 4 de novembro de 2018

Nada Sei de Emunah


  
Não sei de nada; eu nunca soube de nada! Eu não sei de nada a não ser o fato de que não saberei de nada que seja ligado à Verdade. Pera... também não sei sobre isso; que significa que um dia poderei saber que nada sei. Mas... será mesmo? Ah, não sei!
Sempre fiz aprendizes em confusão; especialistas da dúvida e odiantes da razão absoluta. Sempre preguei contra a Emunah: de boca e de atitudes. De forma bem natural, afinal não a conheço e nem a reconheço.
   Sempre sou aluno de todos os professores; mesmo os que são antíteses entre si mesmos. Todos me ensinam algo, enquanto lhes ensino a ensinarem-me, pois sempre aprenderei que de nada sei e saberei.
  Mas muitos me olham e dizem que sei muitas coisas; que sou inteligente. Então eu gargalho! Os que me dizem isto são meus professores também. E me questionam com bufadas irritadas do por quê eu dei gargalhadas. Então respondo:
  "Cada vez que eu sei... mais eu não sei. Cada vez que tenho respostas, triplicam-se perguntas que geram filhas que se multiplicam por cem e desdobram-se em setenta ao quadrado...

Entro e saio de muitas portas do edifício epistêmico da chamada ciência, e por isso sempre me perco nas rotas, dizendo que nada sei. Só sei que nada soube e que nada sei, pois conversei com Sócrates em um vai e vém destas portas de algum corredor do segundo andar... do Edifício Epistêmico, da rua da Escuridão."
  Então elas se convertem à minha religião: Da Oposição à Verdade (Emunah) Absoluta; e entram na denominação da Eterna Arte da Dúvida. E agradecem: "Maldito; me apresentou o não caminho das pedras!" E eu, sorrindo sarcásticamente, digo: "De nada".
#Prosador

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Sapiens: Uma breve história ds humanidade.


Há milhares de anos atrás, os descendentes deste Israelense (hebreus) chamado Yuval Noah Harari, decidiram escrever um livro chamado Gênesis (adaptado da mitologia babilônica, diga-se de passagem.) Eles expressaram a sua verdade por forma mítica (transmitida por linguagem figurativa e arquetípica; ver Gênesis 1 ao 11). Mas, já no século XXI, após a revolução científica, Harari, apoiado por todos os conhecimentos da existência acumulados pela humanidade, resolve escrever o mesmo pressuposto: de onde viemos e de onde tudo surgiu?  Porém, desta vez, com uma linguagem literal e científica. Sim! A humanidade cresceu e saiu de seu jardim de infância e agora usa uma linguagem diferente da antiguidade. Este livro é muito bom e para qualquer leitor: do mais acadêmico ao mais popular e simples. 
Disponível em: <http://lelivros.love/book/baixar-livro-sapiens-uma-breve-historia-da-humanidade-yuval-noah-harari-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/>
Acesso: 30/10/2018.
#Prosador

domingo, 28 de outubro de 2018

O Edifício Epistêmico de 500 portas da rua da Escuridão



    Era meia noite; eu estava  na encruzilhada entre a avenida Superficialidade com a rua da Escuridão. A avenida Superficialidade era muito iluminada, barulhenta, movimentada e cheia de casas de tijolos opacos e grandes prédios luminosos e ladrilhados. A rua da Escuridão estava em breu total! As luzes estavam queimadas e somente havia um fino feixe de luz bem longínquo. Quase imperceptível para os olhos atarefados e fatigados de quem corre frenéticamente entre a rotina de suas casas e o trabalho.

 A verdade era que o silêncio e a escuridão daquela rua me incomodavam; me apercebi desta discreta luz, juntamente com sons de flautas doces e de águas correntes de riachos. Sons muito baixos perto dos barulhos de buzinas e de carros da avenida. Então segui estes sinais e ultrapassei uma mureta divisória do beco que daria nesta rua. Eu segui o feixe de luz obstinadamente; ele estava muito longe. E quanto mais eu adentrava esta rua, mais imbricações  e desdobramentos ela apresentava. Se multiplicava em sub-ruas; os sons de flautas estavam por várias direções juntamente com o som de várias águas. Segui a luz até o final principal da rua e ela provinha de uma vala, coberta de folhas caídas de uma árvore. Escorei-me nela e desci suas escadas, caminhando até chegar ao subsolo; ele possuía uma estreita rua de barro. Ao seguir até o final desta rua subterrânea, me deparei com um enorme edifício antigo e cheio de plantas crescendo ao seu derredor, coberto de teias de aranha.

  Adentrei sua pequena porta principal e a cada andar que eu adentrava, subindo as antigas escadarias, existiam mais portas. Portas e mais portas.... que vinham antes de portas e mais portas... como uma infinita dízima periódica insistente.  Depois de curtas investigadas pelos nove primeiro andares, decidi explorar o décimo andar, em outra porta. Segui uma trilha de portas, entrando e saindo de várias como em um labirinto. E muitas vezes me encontrava com alguns seres lá dentro, estranhos para a atual época; alguns eram humanos... outros nem tanto.  Neste edifício, as portas  e sub-portas não acabavam nunca e os corredores possuíam diferentes decorações e formatos. Até que a partir da trigésima segunda porta haviam orquestras que cantavam em diferentes idiomas e de formas desritmadas; o violão estava em dissonância do baixo, juntamente em desafinação com o trompete e atabaques. Então sai e entrei por outro corredor com outra orquestra e miríades de outros ritmos menos estridentes, porém de igual desritmia. Mas isto me gerava certo fascínio; os ritmos me fizeram pensar; really makes me wonder!

  Depois disto, eu tentava sair daquele andar e entrar em outros; mas os fenômenos se repetiam e quanto mais eu tentava escutar os ritmos e sinfonias... mais não entendia as intenções dos seres lá reunidos e o que lá falavam, me embasbacando ainda mais com o mistério ininteligível. Em outros andares apresentavam-se estilos nunca antes vistos, e outros possuiam peças em que os animais eram os personagens: com uma sinfonia de relinches, latidos, grunidos e miados. Na plateia estavam grilos e besouros, juntamente com bebês balbuciando e aplaudindo. Uma mulher branca sem camisa e sutiã, com seus cabelos soltos e peitos de fora, estava bem ao fundo do auditório, com uma bandeira da Revolução Francesa numa mão; e lendo Simone de Beauvoir em outra; numa oscilação entre êxtases de alegria e explosões de raiva. Um homem caucasiano e sem sombra, atrás dela, estava sentado mais ao fundo, ora fumava seu charuto e olhava-a fixamente, deduzindo planos para tirar dela a bandeira e queimar o livro.

 Enquanto isto, no outro lado do auditório, eu vi um primata de grande porte ao lado do homo hábilis, travando uma luta contra o homo erectus que fazia parceria com o homo neanderthalenses, enquanto um homo sapiens sapiens comia pipoca e assistia ao conflito. De outro lado haviam cenas em holograma de caravelas navegando por mares, com diversas bandeiras de conhecidas nações; índios antropofágicos comendo torturadores da inquisição, enquanto militares lutavam contra guerrilheiros. Em outro holograma, Hitler e Mussolini conversavam exaltadamente em cima de um tanque que estava, em sua metade, coberto de sangue; sangue de judeus, negros e homossexuais. Eles pararam para saudarem com urras e vivas a explosão de Hiroshima e Nagasaki. Trump e Bolsonaro, observando estas cenas... se esmurravam em um canto da sala, mas se admiravam depois de cansados, enquanto comunistas faziam um coral, dizendo: "Fascistas!". Então Hitler e Mussolini, daquele mundo virtual, gargalhavam com o absurdo. Mas Getúlio era o juiz da luta livre entre o Coiso e o Coiso estadunidense. Mais aue de repente... Stalin e Lênin invadiram a sala e, munidos de metralhadoras Ak-47, matavam o coral de comunistas, se aliando a Hitler e Mussolini, fazendo Bolsonaro de engraxate de seus sapatos sangrentos. 

 Eu estava perplexo com o que enxergava, mas chocado porque não tinha visão de nada (compreensão). Os bebês pareciam felizes na plateia, juntamente com os animais no palco que apresentavam o espetáculo, em meio às lutas travadas entre estas personagens e entre as imagens de hologramas. Então fui para o último andar do edifício de 500 portas e presenciei o que mais me perplexificou: eu mesmo! Eu estava com um rosto pálido e uma expressão taciturna, refinada por lágrimas que gotejavam no canto esquerdo e rosto transpirando. Minha cabeça estava enorme e eu estava desorientado falando em códigos de uma estranha língua, sem parar! 

  Então perguntei a mim mesmo quem eu era; notei que depois da pergunta, me senti com deveras sede! Minha boca estava ressecada igual a do meu alterego em minha frente. Notei então que ele era eu; e eu era ele. Mas no vácuo da sala não havia nada... a não ser um espelho! Então corri desesperado pelos corredores entrando e saindo de portas em busca de água... mas só as ouvia emanarem atrás da parede do edifício que dava para o Oeste. Até que ao chegar ao térreo, e acompanhando a direção do discreto som de águas e de flautas, pude ver de relance do lado de um sofá do esdrúxulo hall de entrada, uma portinhola de madeira de 90 centímetros.

 Adentrei-a e avistei uma saída para a parte Oeste do edifício, nunca vista antes. Percorri o caminho barroso dessa portinhola que deu para um local fora da planta do edifício,  composto de um riacho ao final, contendo uma fonte jamais vista por mim. Então matei minha sede torturante com uma água indescritível, diferente das demais e que matou minha sede; diferente das outras águas. Esta água estancou minha dor de cabeça; então retornei ao andar bizarro e ao abrir a porta do Grande Espetáculo... nada tinha lá. Mas o palco estava no lugar, com vestígios de roupas e pêlos dos animais, juntamente com a chupeta de alguns bebês. "Processos inconscientes resolvidos!" Reverberou a voz da certeza dentro de mim; e de relance eu vi, pela fresta das cortinas fechadas do palco de teatro, Freud e Jung discutindo aspectos da Psicanálise e também sobre meus processos inconscientes resolvidos naquela sala após a água da fonte. Então fechei a porta e corri dali. E durante a tragetória de volta à rua da Escuridão... senti imensa tristeza! Os sons de buzinas de carros eram o sinal do fim daquela rua misteriosa e o começo da rotineira avenida chata. A água no mundo cotidiano era amarga perto daquela outra água da rua da Escuridão; e não matava a minha sede específica. As sinfonias do mundo cotidiano eram muito organizadas e entediantes; mas a do edifício da rua da Escuridão... algo surreal e encantador.

Cheguei à conclusão de que poucos, se comparados com os que ficam na avenida, acessam esta rua e desvendam a arte de explorar as portas e portinholas daquele edifício; seu nome se chama "Edifício Epistêmico" e suas quinhentas portas em doze andares e demais portinholas no hall de entrada, são somente o sumário de um grande livro enciclopédico existencial, em que o índice se chama: "Haja Luz...". Dizem que os que voltam daquela rua, sempre voltam diferentes do estado que eram. São internados em hospícios e diagnosticados como loucos. Nada é feito para interditar esta rua, pois os que tentam... são tragados pela curiosidade de adentrá-la e explorá-la ao último centímetro quadrado. Dos que entram nela... uma parcela não volta; outros voltam tardiamente e cheios de mais loucuras: balbuciam e falam detalhes de coisas nunca antes ditas. Inclusive os idiomas falados naquele edifício. O que seria este edifício? Somente os que entraram nesta rua sabem; e depois de saberem... ninguém os entende, ou não quer entendê-los.

  Edgar Allan Poe analisou a sensatez do povo da avenida da Superficialidade e considerou que amava a loucura da rua da Escuridão; dizendo que quando um louco parece totalmente são... é a hora de lhe colocar numa camisa de força novamente. Einstein praticamente morou e morreu lá; Niezstche explorou seus amplos recônditos; Sartre passou por algumas portinholas, juntamente com Ernest Becker. Sócrates/Platão e Aristóteles, guiados por Hermes Trimegisto, acharam passagens secretas para outros mundos (metafísicos) e exploraram muito bem alguns andares. Fernando Pessoa seguiu seus rastros, compondo lindos poemas.  Agostinho explorou o saguão e o último andar, falando sobre duas cidades, após suas explorações. Darwin observou atentamente a briga daqueles hominídeos no auditório teatral, conversou com o homo sapiens sapiens que comia pipoca, assistiu a peça de relinches, latidos, grunidos, etc... e colecionou besouros e grilos de lá. Freud conversou com os bebês que assistiam, entusiasmados, o espetáculo dos animais no palco e Jung fazia anotações como seu estagiário e futuro rebelde. Os descobridores do mundo quântico acessaram o porão e ainda  vasculham coisas lá; e assim sobrevivem outros mais no edifício.

É dito que este edifício é como um oceano em Júpiter, deveras infindável para qualquer indivíduo que é lançado sobre ele. Lançado com ancoras nos pés que o puxam infinitamente para baixo, tentando encontrar o chão oceânico mas nunca encontrando. 
#Prosador.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Uma Prosa sobre oTempo

 

Carrasco, mesquinho, aterrorizante e turturante. Representado por ponteiros numa sinfonia de onomatopéias que emanam o "tic" "tac" que nos desestabiliza. Desde o momento que saimos de um útero já estamos morrendo em uma constante decadência até a velhice, pois nos sujetamos a agência dele; a morte é um constante e contínuum processo, a menos que venha repentinamente por um acidente, quando ele se cansa e ceifa nossa vida! Quem é ele, de quem eu falo? "Ah, o tempo... o tempo não pára", como disse o ilustre poeta, derrotado pela grave Aids: Cazuza. É ele: o tempo! Quem testa duramente nossas palavras jogadas ao ar. Que aponta nossa piscina (da alma) cheia de ratos; nossas ideias que não correspondem aos fatos! Ele inferniza-nos quando prolonga nosso sofrimento e quando encurta nossos êxtases e irrompimentos de alegria. O tempo é imprevisível, ultrapassa o mero status de cronômetro e significado em datas de um calendário. "Tempo" significa evolução, mas também decadência; experiência, mas também infantilidade. Acúmulo de conhecimentos, mas também de burrices da arrogância. Uma coleção de alegrias e urras de felicidade; mas também a vinda do câncer em decorrência do lamaçal de emoções lúgubres e pesadas, cheias de amargura. O tempo é relativo quando nossas escolhas definem quem somos. O tempo... é somente um reflexo e uma consequência das nossas escolhas a curto, médio e longo prazo.
#Prosador

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Tributo a Bruce Lee: Alma, Mente e Corpo!



"Você ainda se enxerga como chinês ou norte americano?" - Perguntou certo entrevistador norte americano (de espírito mesquinho, talvez) ao Bruce Lee.
E ele responde, quebrando o espírito separatista e nacionalista por de trás da pergunta:
"Sabe como quero me ver? Como um ser humano!". E continuou o mestre Lee:  "Porque, sabe? Não quero soar como o Confúcio, mas debaixo do céu apenas existe uma família; é apenas causalidade que as pessoas sejam diferentes."
Deixando-me estapafúrdio com esta resposta, Brucee Lee resumiu meu pensamento. Somos como uma grande família: humanidade e não humanidades. O nacionalismo, as rivalidades políticas e econômicas, sociais e religiosas... trazem um espírito ariano e hitlerista na humanidade. Cristãos condenam pagãos e muçulmanos; muçulmanos discriminam os que são "infiéis" a Alá; católicos não se dão bem com protestantes; brasileiros são rivais de argentinos; o branco descrimina o negro que acumula raiva do branco; o norte americano olha com repúdio para o mexicano e o mexicano dá gargalhadas do venezuelano; o bolsonarista mata a facadas um petista haddadiano, e outro petista generaliza e chama todos de fascistas, etc e coisa e tal... e tal coisa. Mas somos todos filhos da existência de um mesmo DNA e características que nos tornam todos humanos. Todos filhos de Deus; chame-o de Alá, Javé, El Elyon, Viracocca, Odin, Pudim... não importa. Nossas diferenças não deviam ser motivo para nos desunir, mas para nos aperfeiçoarmos com toda diversidade. Nossas semelhanças deveriam ser um grande superbonder que nos une; mas para os que vivem como protagonistas e ainda não passaram para o lado de lá... isto soa como loucura. Ah, humanos!
#Prosador

Link desse diálogo:

https://youtu.be/vPLqYQUJAMM 

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Política: Arte da Sabotagem



No Brasil, com todas estas propagandas e últimas notícias sobre a cumplicidade de empresários para divulgar notícias falsas contra o PT e para favorecer Jair Bolsonaro, percebemos que o Brasil sempre inovou o conceito de política. Antes, o conceito de política  que era a arte de governar, gerir o poder, gerir os problemas e garantir a segurança e demais direitos da população... foi transformado pelo Brasil na arte de sabotagem; desde os tempos do Império, quando D. Pedro I aderiu à "democracia", acrescentando aos poderes executivo, legislativo e judiciário, o poder moderador. Que significava a grosso modo sua arbitrariedade para anular propostas dos demais poderes caso não concordasse. No Brasil República a mesma coisa; através dos votos de cabresto, coligações entre os coronéis e os políticos para arrecadar muitos votos (coronelismo), fraudes no resultado da votação, voto aberto e coercitivo... e outras coisas da mesma extirpe. A lava Jato entrou em cena para mostrar que grande parte destes costumes e deste jeitinho brasileiro foderoso de ser... continua arraigado em nós e no Planalto. Desta forma, nos comerciais e debates, o que mais ocorre é o ataque ao adversário ao invés de maior ênfase nas propostas do próprio político. Esta é a arte da sabotagem no Brasil... muito mais do que em outros lugares. 
#Prosador

terça-feira, 16 de outubro de 2018

A evolução da humanidade: do mítico ao literal cientificismo


Quando a humanidade estava no seu jardim de infância, Deus se encarregou de ajudá-la a entender suas origens. As mitologias cosmogônicas, ou seja, da criação do mundo, foram produzidas. Inclusive o gênesis, sendo uma mitologia adaptada da mitologia babilônica. O mito é uma verdade expressa por uma linguagem figurativa, e não uma mentira. Mas quando a humanidade saiu do seu jardim de infância e se tornou adolescente, já nos séculos XVII XVIII e XIX, (revoluções científicas), Deus a viu sair do mundo das fantasias e dar um vislumbre na literalidade e nos mistérios do Universo. Então Darwin tomou a palavra no grande palco da existência, e traduziu as fantasias para uma linguagem capaz de fazer abstrações e de raciocinar complexamente. Darwin explicou o surgimento do homem através da evolução. É bem verdade que Aristóteles e outros indivíduos já haviam pensado nisto; mas Darwin foi grande maestro em explicitar tudo o que os antigos deduziam. Então Deus sorriu e se alegrou quando a humanidade conseguiu caminhar com as próprias pernas. Mas ela ainda é adolescente, entre os seus 15 e 16 anos de idade... quase nos 17. Com muitas birras de adolescente, é claro; mas um dia ela aprende. Ela deu um grande passo ao descobrir o mundo quântico e formular suas teorias físicas, espaciais e a teoria da relatividade. Einstein e outros tiveram grande papel nisto; Deus também se alegrou disto e deu urras e vivas para ela. Pois finalmente... estão contemplando os resultados do seu grande BOOM há bilhões de anos atrás, que originou tudo. Os gregos sabiam disto e disseram: "Pois nele vivemos, nos movemos e existimos". Mas ele não existe, pois ele está acima da existência; ELE É, apenas. "Ele é" é o status permanente da divindade chamada por uns de Alá, outros de Yaweh, Viracocha, Deus, etc.
#Prosador

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A Morte de Deus


A Morte de Deus

 Quando disse Nietzsche que "Deus está morto", certamente ele estava certo. O fato de muitos contestarem com furor esta ideia e até terem lançado o filme "Deus não está morto" é fruto de uma má interpretação. Para Nietzsche, o deus do cristianismo estava morto, logo a sua frase: "Deus está morto!" Mas por que estou falando disso? Porque Deus tem morrido todos os dias para muitos e morreu para mim. O mesmo Deus de Nietzsche; Deus morreu para mim quando eu percebi que ele era um ídolo; quando descobri que as pessoas não vão para o inferno porque não aderiram a confissão cristã de Jesus como Senhor e Salvador. Morreu quando entendi que o inferno não é como idealiza a religião cristã de constantino que sobrevive até hoje. Morreu quando parei de ver a bíblia como um livro sagrado, infalível e literal em todos os sentidos (Gn 1ao 3 por exemplo). Na verdade, abomino esse Deus cristão; ele é egocêntrico, interventor de tudo, bipolar: pois um dia é amor e graça e outro ira e "justiça". Joga pecadores no inferno eterno porque nunca ouviram sobre Jesus ou rejeitaram o Jesus desfigurado da religião. De certo ele morreu quando percebi que toda essa doutrina sufocante é um fenômeno histórico, sociológico, psicopatológico e filosoficamente burro. Com todo o aparato histórico, pude ver a bíblia como ela é: falha, limitada, imperfeita, presa aos condicionamentos da cultura judaica machista e repressora. Mas para isso tive que me desprender do mito da verdade absoluta, do "não poder questionar" e do campo das doutrinas e dogmas que cegam e brutalizam um fiel. Não significa que a bíblia não seja importante e rica em conteúdos, etc... e nem que não seja um registro da experiência dos judeus com Deus; mas que ela é produto da imperfeição humana e por isso mesmo... inabsoluta e questionável em seus pontos. Não me refiro aos trechos das falas de Jesus Cristo e seus mandamentos (os considero universais e transcendentes de qualquer cultura) mas às outras coisas que não posso especificar agora por não ser o objetivo.

 Existem, assim, primariamente dois deuses cristãos (tirando o pastor que reina em seu púlpito) que são: a bíblia, e depois o deus cristão, reflexo da leitura cristã da bíblia. Ambos... morreram para muitos. Para alguns o verdadeiro Deus também, associado a esses deuses; infelizmente. Para outros... somente estes deuses cristãos, pois souberam separar maduramente a desfiguração da Realidade.

Mas quem é Deus então? Não sei; sei quem ele não é. Afinal, é muita pretensão saber definir Deus (aquele que não existe, pois está além da existência, pois a gerou e não vive dentro dela) e eu vou até esta definição, disto eu não passo. Mas existem outras definições sobre o Deus Indefinível: a islâmica, espírita, umbanda, ocultista, judaica, grega, indígenas e outras que estão cobertas e incobertas. Todas ou quase todas se arrogam absolutas e únicas em sua visão sobre Deus; trágico! E sendo assim, eu encerro dizendo: "Só sei que nada sei;" no espírito socrático que reconheceu seu estado verdadeiro na existência.
#Prosador

terça-feira, 2 de outubro de 2018

"Afinal, a História serve para alguma coisa?"




Atenção: este texto contém spoilers
histórico-acadêmicos.

Estou terminando minha graduação em História e percebi a enorme utilidade dela em minha vida. Meu tema do Tcc (trabalho de conclusão de curso) irá discorrer acerca das intenções da elite abolicionista em Santos. Irei resumir e dar um "spoiler" do que irei falar na data da apresentação.

Santos era uma cidade conhecida como "Canaã Santista" porque costumava acolher e "sequestrar" (pelos caifazes) os escravos fugidos das fazendas de café de São Paulo. A década de 1880 era uma década de muitas revoltas de escravizados e resistência. Eles já sabiam, assim como todos, que era uma questão de tempo para o fim da escravidão. A elite santista montava uma fachada de humanitarismo ao acolher os escravizados e passava uma imagem de boa e legal, mas na verdade os abolicionistas exploravam os ex-escravos que chegavam em Santos almejando a liberdade. A elite criou um quilombo, chamado Jabaquara, localizado longe do centro da cidade (para impedir a mistura e convivência entre negros e brancos). Ali, os negros eram amontoados naquele quilombo sob a liderança de um negro (e ex-escravo) a favor da elite: Quintino de Lacerda. Os negros eram dependentes da elite, pois ela libertou o negro para ele trabalhar em troca de baixos salários. Como era uma cidade moderna e portuária (mas com grandes surtos de febre amarela), Santos precisava de trabalhadores para operarem funções ligadas ao seu porto. Os trabalhadores santistas livres costumavam fazer muitas greves e exigiam seus direitos, por isto o negro fugido das fazendas era a melhor opção de exploração, pois era acolhido e feito dependente desta elite.

  O que esta história nos ensina? Que em primeiro: não existe humanitarismo gratuito e sem interesses, praticados por uma elite ou alguém(ou se existem, são casos isolados). Segundo: é atual esse discurso político em que um candidato diz ser a favor do povo, mas está pouco se f#$3n&@ (fodendo) para ele, e ainda o manipula com discursos de que as coisas vão melhorar se o elegerem, como foi o caso de Quintino de Lacerda, ex-escravo que foi colocado para "liderar" (ou seja, controlar e acalmar) os ânimos revolucionários dos ex-escravos. Os curiosos de plantão estão convidados para verem minha apresentação de Tcc no fim de novembro (chamem no privado) e caso queiram saber mais sobre o tema, podem me perguntar; só chamarem no privado .

Ass: Gabriel Meiller (facebook) (#prosador).

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A disputa entre gêneros e a imposição rígida de padrões definidores sobre eles.



-Gabriel Meiller Nunes

O casal tradicional denominado"homem e mulher" muitas vezes, no nosso cotidiano, acaba se tornando "homem x mulher". Em minha vida pessoal no contato com amigas mulheres, ouço constantemente a lamúria de que "homem não presta" e de que são "grossos",  "todos iguais", "esquecidos", "machistas" e etc. Algumas cogitam em se tornarem homoafetivas por causa das crescentes frustrações. Algumas falam "da boca para fora", mas outras cogitam este fato seriamente. De certa forma, devo reconhecer que as mulheres possuem significativa razão no que expressam. Mas, como homem, também devo reconhecer que elas também possuem seus defeitos e parcelas a reconhecerem no fracasso de um relacionamento. Porém, reconheço claramente que os homens, de forma mais geral, tendem a desenvolver mais comportamentos que dificultam um relacionamento do que uma mulher (com base na minha experiência). Digo isto sem grandes generalizações (pois existem uma parcela de homens e mulheres que fogem destas dinâmicas relacionais) e pretendo explicar o porquê dessa guerra de gêneros que se exacerbou ainda mais na nossa sociedade contemporânea ocidental, sendo formada pelo machismo e patriarcalismo dominantes, arraigados nela.

  Os conceitos e estereótipos mais comuns sobre os gêneros, difundidos pela nossa cultura, são: O homem como líder, educado em um ambiente com brincadeiras agressivas e que exigem maior coordenação motora e esforços físicos, formando sua personalidade idealizada e estereotipada pelo imaginário social como alguém forte, racional, frequentador de bares e rápido em se vestir. A indústria infantil de brinquedos incentiva esta formação de gênero através de carrinhos, bolas e bonecos que são usados (ou pelo menos "sugeridamente impostos" no meio social como classificados em "brinquedos masculinos", bem como as cores impostas como "masculinas" sendo azul, preto, vermelho, cinza, etc) e funcionam como uma preparação para a vida adulta do menino. Os carrinhos de brinquedo, por exemplo, já estimulam inconscientemente no menino a noção de consumo automobilístico;  e os outros brinquedos o "conscientizam" de seu papel na sociedade, geralmente de explorador do mundo em suas profissões e estilos de vida, como por exemplo: empresário, jogador de futebol, diplomata, lutador e outras profissões "masculinizadas" pela sociedade, como por exemplo: o pedreiro e a construção civil; coletor de lixo, motorista e outras profissões que exigem maior força e coordenação motora (resguardadas suas devidas excessões de mulheres que exercem estas profissões).

Todo este mundo construído pela sociedade patriarcal ocidental, repleta de construções simbólicas por meio de brinquedos, objetos, calçados, alimentos, desenhos, valores culturais conservadores e religiosos, e pela mídia geral em si... são introjetados no inconsciente da criança e moldam sua forma de pensar e compreender o mundo, e compreendendo este mundo, agindo nele de acordo com suas compreensões. Por exemplo: se um menino cresce com a visão imposta por vários meios de que a cor azul e preta são "cores de homens" e o rosa e amarelo são "cores exclusivamente femininas", muito provavelmente em suas relações ele irá se enxergar em sua sexualidade pela cor e não por sua preferência sexual. E se este garoto usar uma camisa rosa? Como irá se sentir consciente e inconscientemente, visto que suas associações da infância relacionam o rosa ao sexo feminino e à "delicadeza" representada por ele?



Com a conclusão de que o imaginário social é constituido por estas construções padronizadas do gênero masculino, o gênero feminino será construído como oposto ao masculino. Como mostrou detalhadamente Pierre Bourdieu, em sua obra "Dominação Masculina",  relacionando as semelhanças da cultura patriarcal ocidental à cultura da sociedade Cabila, localizada na África. Decorrente desta oposição de gênero, o estereótipo do gênero feminino é difundido simbólica, social, religiosa e psicológicamente como frágil, sensível, passivo, polido, simpático e cuidoso em demasia com a estética. A mulher de forma mais geral, como bem mostrou Bourdieu, utiliza roupas confeccionadas pela indústria da moda, que delimitam seus movimentos e as arrefecem em seus movimentos pelos ambientes. Como as confecções de saias, tamancos, saltos e bolsas, que impedem movimentos mais espaçosos e enérgicos, condicionando-a em um certo tipo de postura. A ideia da mulher como submissa, rainha do lar, procriadora e auxiliadora funcional, faz parte dos mecanismos de domínio da cultura patriarcal judaico-cristã.

     Para além desta dominação da indústria da moda, a mulher assim como o homem, é condicionada em sua formação desde a tenra infância, sendo moldada em suas estruturas inconscientes, através dos pressupostos simbólicos e objéticos apresentados pelo sistema cultural patriarcal. A indústria infantil condiciona as meninas a se enxergarem como sensíveis, meigas, submissas, donas de casa, e preocupadas em demasia com a estética. Brinquedos como bonecas repletas de saltos, vestidos, magras e de cabelos longos, internalizam na pequena mulher um padrão estético aceito pelos desenhos, filmes e séries. As brincadeiras de casinha, bem como o fogão, a vassoura e as maquiagens, também sugerem este padrão de vida recluso e dependente do marido. Orientando a criança a determinado papel social. Todos estes simbolismos vão sendo moldados nas estruturas inconscientes femininas. Isto significa que as crianças estão condenadas ao fatalismo de gênero? De modo algum; em um mundo globalizado, repleto de movimentos alternativos, criticantes e protestantes contra esta cultura patriarcal, percebemos que os padrões enrijecidos estão sendo quebrados e maleados pelos conceitos periféricos de representações de gênero, distribuidos nas indústrias, moda, mídia, etc. Mesmo assim, ainda há uma considerável influência e resquícios desta mentalidade na nossa cultura brasílica, e também ocidental.

     Após falar destas divergências entre as padronizações e imposições de gêneros, dados como opostos entre si, quero concluir, por meio do conceito de Animus e Anima do psicólogo analítico Carl Gustav Jung, os conflitos entre os dois gêneros e sua influência nos casais heterossexuais na sociedade patriarcal ocidental. Segundo Jung, de forma resumida, o Animus representa o lado "masculino" em uma mulher, e a Anima o lado "feminino" no homem, devido  à convivência entre ambos e que aprendem entre si, através dela. Porém, com a polarização e antítese causada pela imposição de um padrão comportamental de gênero, o homem ocidental (de forma geral) acaba reprimindo este lado feminino em si (intuitivo, delicado, sensitivo emocional, e afetivo com outros homens) enquanto a mulher acaba reprimindo o seu lado mais agressivo, dominante, e a não estimulação de melhor desenvolvimento da coordenação motora, através de brincadeiras impostas como "masculinas". Desta forma, as relações entre casais de heterossexuais podem acarretar em desintendimentos na convivência entre o casal por causa desta negação dos lados "femininos" e "masculinos" no casal. O homem que acompanha sua companheira nas compras, torna-se muitas vezes impaciente, pragmático e pouco desenvolvido na apreciação da estética de sua mulher, sendo pouco sensível. Não somete nisto, mas também na área sexual copulativa o homem acaba desenvolvendo uma relação sexual pouco altruísta, direta ao ponto e preocupada em seu exclusivo prazer, como demonstram os vídeos pornográficos guiados por pressupostos machistas, em sua maioria. Embora existam filmes pornográficos alternativos, mas de pouca acessibilidade gratuita ainda.

   A mulher desenvolve conflitos em relações retardatárias nos casos de maridos que não colaboram nas tarefas domésticas e culinárias, sob o pressuposto machista de feminilização de tarefas do lar. Principalmente se a mulher tiver filhos  e/ou trabalhar fora. Em todos estes estereótipos generalizados de relação heterossexual, observo que os protestos de movimentos feministas e outros movimentos alternativos, somado à globalização, têm desempenhado papel fundamental para mudar essa realidade, já constituida como obsolente para muitos casais. Porém, ainda existem numerosos resquícios desta mentalidade, dependendo da região do país, predominante em áreas do interior do país e no Nordeste.

sábado, 18 de agosto de 2018

Conflito: o cimento da alma



     Conflito; essa palavra traz inúmeros significados em diversas áreas. Pode ser sinônima de  palavras como problemas, brigas, desordens, dificuldades, caos, bagunças e etc. A visão negativa sobre os conflitos é comum no imaginário pessoal e coletivo de cada uma das pessoas. Mas será que os conflitos somentre geram destruição e coisas ruins? Na verdade o conflito também é positivo, sendo um cimento da personalidade humana. São nos conflitos, discussões e problemas que as nossas perguntas começam a reformular novas respostas e novos modos de ver a vida e a si mesmo. Isto dói e gera desconforto, raiva, tristeza, angústias, mágoas e todo tipo de situações que ocorrem quando saimos da zona de conforto. Os conflitos/problemas são naturais na vida cotidiana de qualquer indivíduo e servem para trazer maturidade e experiência, caso a pessoa aceite passar por ele e resolvê-lo. O conflito quebra as estruturas da alma e desmancha a atual visão sobre a vida e suas áreas, gerando novas construções e estruturas. Para ser mais concreto, invoco um exemplo: uma das fases que gera grande desconforto e crises de identidade é a fase de escolher uma formação profissional. Sair da escola formado e pensar acerca de que faculdade, curso técnico ou trabalho se quer exercer... exige-nos o hábito de sairmos da zona de conforto. Começar a trabalhar em uma área não desejada enquanto não se conquista uma formação, ou trilhar um caminho desconhecido de aprender a fazer um currículo e frequentar entrevistas, criar uma rotina de estudos, lazer, trabalho; lidar com o imprevisto e a falta de experiência... é algo muito cansativo e desconfortável. Mas são conflitos necessários e que trazem maturidade, autonomia, independência, novas amizades e interdependência social, renda própria e novas formas de se ver a vida, bem como novas responsabilidades advindas desta autonomia e independência. Desta forma... viver significa, por um lado, uma eterna resolução de conflitos enquanto se respira e até o coração terminar de bombear sangue.
#Prosador

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Camus e a Absurdidade Existencial




"O Mito de Sísifo" de Albert Camus aborda a questão primordial da filosofia: vale a pena viver? Qual o sentido da vida? Esta pergunta já se passou pela cabeça de todo ser humano lúcido, mesmo que instintiva e inconscientemente. Muitos vivem, outros... apenas existem! Digo mais: todos já tiveram seus dias de se viver e de existir apenas.
#Prosador

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

O Exemplo Sartreano.

         

    " Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você."
---Jean Paul Sartre

    Na vida temos muitas experiências; umas gratificantes e alegres, outras... tristes e traumáticas. Por tendência natural dos seres humanos, as negativas na maioria da vezes, nos marcam profundamente. A Psicanálise de Freud é especialista em analisar o passado da alma humana e diagnosticar os traumas e marcas deste mesmo passado e que repercutem no nosso presente. Mas Sartre, inconformado com o mau uso que alguns estavam fazendo da Psicanálise... disse aquela magnífica frase acima. Ele acreditava que transcendemos o que os outros fazem conosco e podemos escolher não deixar as atitudes alheias nos afetarem a longo prazo. Não somos simplesmente produto de nossos traumas ou do que fizeram de ruim conosco. Não devemos dizer: "Eu sou assim, porque fulano fez isto comigo." Não; podemos escolher caminhar e procurar ajuda, e fazermos novos caminhos. Carl GustavJung, que foi discípulo de Freud, depois de divergir e se separar do Pai da Psicanálise... dizia que não somos somente definidos pelo nosso passado ou infância, mas pelo nosso futuro. "Como assim?",  você pode perguntar. Simples: nossas esperanças de sermos algo ou realizamos sonhos futuros, nos ajudam a nos movermos na vida e não desanimarmos e nem sucumbirmos diante da negatividade do nosso presente ou passado. O futuro e os anseios por ele nos ajudam a sair do fatalismo do passado. Podemos sim, até certo ponto, sermos autores da nossa própria história. O que você tem feito com o que fizeram com você? Conspire contra a vida e dê a ela um sentido; não dê o poder a terceiros de definirem seu futuro ou seu presente. Lute contra a sua  autocomiseração e, também, contra o desprezo e/ou insulto alheio; por amor a si próprio.
#Prosador.

Imagem em:
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Acesso: Agosto, 2018.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Qual o sentido da vida?


O que fazer quando o conto de fadas da infância acaba, bem como toda ingenuidade dela? O que fazer quando crescemos e descobrimos que a magia sumiu e o mundo é baseado em relações funcionais? Se sou algo pelo que tenho... já não sou nada; mas a circunstância, meus bens e o dinheiro na minha conta bancária que são algo por mim. Se sou definido pela minha profissão exclusivamente, sou negado como ser humano e tratado pela minha função econômica e meu status social. Ser ou não ser... eis a questão. O mundo se apequenou dentro da sociedade industrial capitalista; o que está no meu bolso me define ao olhar dos que crescem dentro dele. A matrix é a mais real metáfora para essa sociedade em que vivo  e tomar a pílula da realidade significa sair das ilusões mais básicas desse sistema.  Mas dói tomar a tal pílula e sentir seus efeitos... mais do que isso: dói nos que resistem e se negam a sair dessa ilusão. Estes se incomodam com quem quer sair dessa fantasia nada infantil. O que fazer? Matar-se ou viver pelas agruras da atual sociedade? Dar sentido ao que não tem e conspirar contra a existência? Somos todos máquinas de fazer sentido... tentamos ao máximo camuflar a falta de sentido da existência e distrair a consciência e nos esconder do fato que reverbera sobre toda nossa vida. Qual o sentido da vida? Nenhum; nada faz sentido a longo prazo. Um dia tudo se acaba para nossa felicidade de não mais ter que existir sobre esse fardo que atormenta os seres viventes.
#Prosador

Relacionamentos não têm seguros




   Quando compramos um carro, um celular ou outros bens duráveis, eles costumam ter seguro ou garantias. Existem muitos tipos de seguros como por exemplo: patrimoniais, rurais, financeiros, de vida, habitacionais, marítimos e etc. Mas qual a função de um seguro? Seria, de forma mais reducionista possível, segurar aquele que usou seu serviço. Dar um suporte mediante a perda daquele bem que o cliente segurado confiou ao serviço de seguro, mediante um contrato antecipado. Desta forma, se meu carro for roubado... a seguradoura irá arcar com o prejuízo, parcial ou total, deste roubo; mas somente se as condições foram pré-estabelecidas, num contrato justo e de boa fé, antes do roubo. O segura representa um princípio básico no mundo em que vivemos: ele é imperfeito e sempre corremos riscos e nunca temos total controle sobre o que vivemos nele. O controle é ilusório e passageiro; embora hajam seguros em diversas categorias, não existem seguros quando se trata de relacionamentos, muito menos garantias. Sejam em amizades, namoros, casamentos, ou relações familiares e com qualquer outro ser humano e animal.  Podemos nos frustrar, sermos traídos por quem amamos... tanto quanto podemos ser amados e aceitos por elas. E podemos escolher duas coisas: ou nos afastamos dessas pessoas e vivemos sozinhos e com medo dos riscos se repetirem... ou assumimos o risco e a dor incerta do sofrimento, tanto quanto das alegrias e realizações nos relacionamentos com elas. Ambas as decisões acarretam em alguma consequência. Viver mais fechado pode amenizar riscos, mas pode nos isolar e nos privar de alegrias que poderíamos ter na coletividade, como a maturidade, afetos, o lazer e tantas coisas mais. Mas viver na coletividade exige a renúncia de abrir mão (temporariamente) de alguns atributos individuais que podem ferir o coletivo, e existem riscos de situações desagradáveis e perdas. No meu ver hoje... a vida na coletividade é essencial, mesmo com riscos, pois somos seres sociais e precisamos do outro para muitas coisas. A intensidade de interação na coletividade pode mudar de pessoa para pessoa e as experiências anteriores desempenham grande influência nisto. Seja como for... temos que entrar nos relacionamentos (de qualquer natureza) cientes dos riscos e das qualidades que podem nos agregar. Para que quando ocorrerem as frustrações (e serão muitas), saibamos sofrer devidamente, mas depois recomeçarmos sem perder as esperanças nas pessoas e nos relacionamentos que ferem, mas curam; sufocam, mas rejuvenescem. Trazem raiva, mágoas e dor, mas alegria, gratidão e alívio.  Apenas não desista de se relacionar por causa das más experiências do passado; saiba que correr riscos é vital debaixo desta ordem imperfeita e o sofrimento é para todos, bem como o amor e a felicidade.
#Prosador

Imagem em:
<https://www.apusm.com.br/2017/04/informe-rede-centralsul-seguros-a-importancia-de-um-seguro-residencial/>
Acesso: agosto, 2018


sábado, 28 de julho de 2018

A Lei do Evangelho vs As Outras Leis



" Mas, se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei."
-Paulo de Tarso, escrevendo aos Gálatas (5:18).


   Paulo de Tarso era seguidor do Evangelho, após seu encontro com Cristo Jesus, marcante em sua vida. Ele mais do que ninguém sabia o que era se sujeitar à lei (hebraica) e ao judaísmo; Paulo era religioso antes de conhecer o Evagelho e se sujeitava à lei provisória. Os gálatas eram recém cristãos que, em muitos casos, vieram do judaísmo e tentaram encaixá-lo junto com o Evangelho. Tentavam se aperfeiçoar pelo mérito da observação de regras (Gl 3:3) e se justificarem diante de Deus. Mas será que o que Paulo falou se limita somente a isso? Não; a Palavra de Deus transcende a Bíblia e as Escrituras e se aplica multiformemente no dia chamado hoje; sendo assim, hoje também temos outras leis que não são mais judaicas, mas são anti-Evangelho também. A lei do triunfalismo (nunca aceitar perdas, dores e fraquezas); do egoísmo (usar  pessoas sempre em nosso benefício e para nos dar o que queremos); da vingança (não perdoar as pisadas na bola de alguém); da "sobrevivência" (pisar em cima de quem for para conseguir nossos objetivos;  "antes ele do que eu"); e tantas outras leis. Paulo diz que quem está sendo guiado pelo Espírito (de Cristo Jesus), não está debaixo destas leis; seja da meritocracia, autojustificação, exploração do próximo, e da lei do ódio e do egoísmo. Estar debaixo destas leis significa fazer destes erros um hábito, um respirar diário de egoísmo, maldade, ódio, violência e ciúmes; de forma consciente e com amor às trevas e ódio pela luz e pela vida. A lei do Evagelho é somente uma: a do amor ao próximo. Esta lei é diferente de todas as outras, pois não é imposta; muito menos mecânica, padronizada e obsoleta. Ela se aplica mediante a consciência que vai sendo iluminada pelo Evangelho e recebendo o amor de Deus. Ela é universal, atemporal, e transcultural; não discrimina etnias, muito menos opções sexuais e econômicas. Ela confronta toda padronização da religião e se desvencilha dela. Não trata seres humanos como manufaturas idênticas, mas segundo o espírito do amor e da graça.
#Prosador

Imagem em:
<https://www.google.com.br/amp/www.mulheresbemresolvidas.com.br/voce-esta-pronta-para-um-novo-amor/amp/?source=images>
Acesso: julho, 2018.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

A Alienação na Racionalidade Científica


"A questão existencial de saber se existe "mais" se estende além do aspecto da experiência humana como um todo. Pois alcança também um âmbito pessoal e individual."
-Thiago Arrais



 Essa frase de Thiago Arrais me trouxe um entendimento sobre um assunto muito presente em muitas pessoas;  principalmente em mim. Muitos intelectuais e acadêmicos também passam por isto. E o que seria tal assunto? A alienação na racionalidade científica.   Alienar-se na racionalidade científica significa ver toda a existência e tentar teoriza-la a partir da racionalidade e da intelectualidade de pressuposto meramente científico. E por quê isto é comum? Porque vivemos na era científica em que tudo precisa ser testado e teorizado de acordo com as leis universais dela. O que não pode se encaixar no cientificismo humano (ou seja, do controle humano sobre a interpretação de fatos e fenômenos universais ) é facilmente descartado ou colocado como fora de norma e padrão. Mas nem tudo, como por exemplo sentimentos, emoções e outras áreas, podem e devem ser teorizadas. Como disse Thiago Arrais, há questões que fogem da vida racional e dessa existência e o "mais" ou seja, o transcendente a esta ordem de coisas, o inexplicável e o pessoal... só podem ser vivenciados pessoalmente e não servem para teorizar. Teoria serve para a prática, assim como o trabalho, o comer, a diversão e as demais áreas servem para a vida. Na ordem ideal da existência: a ciência, o conhecimento, a comida, o dinheiro e o prazer... estão a serviço da  grande arte de se viver. Não são um fim em si mesmos. Quem vive para trabalhar ao invés de trabalhar para viver? Ou quem se propõem a ser uma enciclopédia ambulante ao invés de usar a ciência e o conhecimento para uma melhor qualidade de vida? Desta forma... a experiência e o sentido de se viver encontram-se quando a vida não serve aos meios, mas os usa para ela e não se aliena neles.
#Prosador

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<http://www.esquerdadiario.com.br/A-alienacao-do-trabalho>
Acesso: julho, 2018.

domingo, 15 de julho de 2018

"A Coragem De Ser Imperfeito" de Brené Brown



"Não é o crítico que importa; nem aquele que aponta onde foi que o homem tropeçou ou como o autor das façanhas poderia ter feito melhor. O crédito pertence ao homem que está por inteiro na arena da vida, cujo rosto está manchado de poeira, suor e sangue; que luta bravamente; que erra, que decepciona, porque não há esforço sem erros e decepções; mas que, na verdade, se empenha em seus feitos; que conhece o entusiasmo, as grandes paixões; que se entrega a uma causa digna; que, na melhor das hipóteses, conhece no final o triunfo da grande conquista e que, na pior, se fracassar, ao menos fracassa ousando grandemente."

( Trecho do discurso " Cidadania em uma República" ou "Homem na Arena", proferido por Theodore Roosevelt, na Sorbonne.) 

Esse discurso é parte do Prólogo do Livro da autora René Brown, chamado "A Coragem de Ser Imperfeito", que foi o primeiro da lista do The New York Times, de algum ano. E esse livro tem me impactado muito, principalmente esse discurso de Roosevelt que traz um vislumbre do que a autora trabalha sob o conceito da vulnerabilidade e de admitirmos a nossa fraqueza e a imperfeição na vida; ainda mais numa sociedade ocidental que nos prega a "perfeição " e uma vida de sucesso. Todavia... ser homem ou mulher de verdade consiste em admitirmos que não somos super heróis (heroínas) e nem o que nossas máscaras e armaduras querem mostrar. E isso exige a coragem de nos tornarmos vulneráveis, pois admitir nossas fraquezas significa entrar em vulnerabilidade. Mas nos torna mais leves e humanos de verdade, livres da tirania da perfeição. Com isto não digo que não devemos nos esforçar para progredir, pois admitir fraquezas é o primeiro passo para o progresso; mas digo que uma vida de negação de defeitos e fracassos é inútil, pois fracassos, defeitos e vulnerabilidade, não se buscam... apenas se respiram, estando presentes sempre. Basta termos coragem de admitirmos e de encararmos nossos fantasmas... ou não.
#Prosador

Ps: Agradeço a Rosiene Formoso que me indicou e emprestou o livro gentilmente.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Um Resumo sobre a Bíblia



    Que todos sabem que a Bíblia é um dos livros mais lidos do mundo (senão o mais) é fato; mas qual sua composição, ideologia e objetivo? Bem... para todo aquele que considera-se cristão ela tem um significado muito grande, não importa se ele é um cristão católico romano, ortodoxo, protestante, liberal, não institucional, evangélico pentecostal, neopentecostal, e aqueles considerados seitas pelos evangélicos, como os espíritas, mórmons e adventistas do sétimo dia. Desta forma, o cristianismo tem seus diversos matizes. O que muda para cada grupo é a forma como interpretam a Bíblia. Só nesta introdução dá para percebermos o quanto a Bíblia é um livro base para a formação da nossa sociedade judaico-cristã, quer para o bem e quer para o mal (bem evidente) na nossa sociedade. Pela minha experiência como um cristão (não institucional e ex-integrante do abrangente meio evangélico), a Bíblia é um livro escrito por homens que tiveram a inspiração para escrever aqueles conteúdos, baseados em sua experiência que tiveram com Deus. Lembrando que não são os judeus os únicos exclusivos a escreverem suas experiências com Deus, pois temos outros povos com suas percepções de Deus, que para os hebreus, segundo seu tronco linguístico, se chamava Yahwe. Eles eram judeus e escreveram os livros integrantes em diferentes contextos e momentos da história e em três línguas diferentes (Hebraico e Aramaico, no Antigo Testamento, e Grego Koiné no Novo Testamento). Pelo fato de ser escrita para diferentes públicos, em diferentes épocas e com diferentes mudanças nos significados das palavras de cada língua (pois as palavras mudam nos seus sentidos e significados em uma língua, visto ser o ser humano alguém dinâmico) ela tem muitas variações de traduções e até para o leitor e estudioso mais erudito é de difícil compreensão em sua totalidade. Por isso existem enormes divergências na cristandade atual (e antiga) e ocorrem, para os que usam este livro como ideologia, aplicações baseadas em entendimentos da mentalidade do século I ou em outros séculos A.C, no caso do Velho Testamento. Por isso a repressão do sexo e a exigência do dízimo para os que pertencem ao meio cristão (embora dentro desse meio haja divergências sobre isto) tanto como outras formas de pensar na nossa sociedade, pois a cultura judaica era extremamente machista. Ao que se trata sobre Jesus de Nazaré/Cristo, seus atos estão registrados nos quatro Evangelhos, com relatos das testemunhas que conviveram com ele. Falando como alguém que tem fé no que está escrito sobre ele, considero Jesus como Deus em forma de homem; para os que não possuem essa fé, a Bíblia, embora diversa para se interpretar, possui um conteúdo filosófico muito rico e útil, se aplicado sem as interpretações convencionais religiosas que provocam neuroses, arrogância, preconceitos em relação aos não-cristãos, homossexuais (embora hajam igrejas integrativas para eles, visto que os religiosos convencionais não os aceitam em sua sexualidade ativa), ateus e etc. Enfim... se eu fosse detalhar e explicar todos os males que a Bíblia fez, não por causa dela, mas por causa da interpretação alheia, eu não terminaria este texto e você, caro leitor(a), não iria terminar de lê-lo. Mas embora hajam esses males, os conteúdos da Bíblia, se não forem interpretados de forma ignorante,  (pois existem questões escritas pertinentes somente ao contexto daquela sociedade, como por exemplo muitas partes do Velho Testamento, como o dízimo, e aplicações que Paulo, Pedro, João, Tiago e outros autores, instruíram a fazer nas culturas e povos do século I, localizadas no Novo Testamento, que eram pertinentes somente a elas e naquele contexto, como por exemplo as mulheres a usarem véu em corínto por motivos da crescente prostituição, a repressão de Paulo aos homossexuais da putaria que eram casados com mulheres mas tinham relações com homens mais novos, e os imperadores e outros do Império Romano que transavam com qualquer pessoa e faziam orgias; estes ele condenava e não os homossexuais em si) sendo vista de forma sensata, ela se torna um livro que ajuda no crescimento pessoal e para os que crêem no Evangelho... demonstram a grandeza de quem Jesus foi  e de quem ele é como Deus, após ressuscitar dos mortos, segundo os judeus e suas experiências. Ps: Não escrevi tudo o que eu poderia e deveria, mas sintetizei o que considerei principal neste momento e para uma publicação nesta página.
#Prosador

Imagem retirada em:
<https://formacao.cancaonova.com/biblia/estudo-biblico/formacao-teologica-qual-e-origem-da-sagrada-escritura/>
Acesso: Julho, 2018.